February 19, 2018

Extração de caninos decíduos para interceptar caninos impactados no palato – Um estudo simples nos traz ótimas informações

É uma prática comum remover os caninos decíduos para prevenir que os caninos permanentes fiquem impactados no palato. O presente artigo nos traz um ótimo guia sobre quando isso é provável de funcionar ou não…

Eu postei sobre isso antes. Na época, eu discuti que mesmo que a remoção dos caninos decíduos fosse uma prática comum, existia uma evidência limitada para dar suporte ao procedimento. Felizmente, um estudo muito bom sobre tal procedimento foi feito e postei sobre ele aqui. Os autores fizeram um acompanhamento para identificar se as radiografias panorâmicas podem prever as chances de sucesso na erupção dos caninos deslocados pela palatina. Eu achei que o estudo foi ótimo e decidi avaliar alguns detalhes dele. O estudo foi feito por um grupo de Gotemburgo e o EJO publicou o artigo.

The use of panoramic radiographs to decide when interceptive extraction is beneficial in children with palatally displaced canines based on a randomized clinical trial

Julia Naoumova 1 and Heidrun Kjellberg 2

European Journal of Orthodontics, 2018, 1–10 doi:10.1093/ejo/cjy002

É ótimo ver que este artigo é de acesso livre. Sendo assim, qualquer um pode lê-lo. Seria ótimo ver o EOS fazer mais artigos acessíveis e compartilhar o conhecimento da pesquisa clínica com pessoas que não são membros da sociedade deles.

Em sua introdução, os autores ressaltaram que haviam observado os efeitos preditivos da tomografia computadorizada de feixe cônico (TCFC) num artigo anterior. Porém, o uso da TCFC não é generalizado. Assim, eles quiseram observar o poder preditivo das radiografias panorâmicas (PAN) para identificar os caninos deslocados pela palatina que erupcionaram com ou sem a extração dos caninos decíduos.

Eles quiseram responder à pergunta:

“Existiria algum possível preditor e pontos de corte que poderiam ser identificados numa radiografia panorâmica para identificar se a extração do canino decíduo é benéfica ou não no tratamento de pacientes com caninos deslocados pela palatina?”

Em outras palavras:

“A panorâmica teria alguma utilidade na decisão de se extrair os caninos decíduos quando o paciente tem caninos deslocados pela palatina?”

O que eles fizeram?

Eles fizeram um RCT com alocação de 1:1. A PICO foi:

Participantes: Crianças com idades entre 10 e 13 anos com caninos deslocados pela palatina uni ou bilateralmente. É importante ressaltar que elas não poderiam ter um apinhamento maior do que 2 mm (eu devo retornar a isso mais tarde);

Intervenção: Extração de caninos decíduos;

Controle: Ausência de extração do canino decíduo;

Desfecho: Erupção do canino aos 12 meses.

A posição inicial do canino deslocado pela palatina foi acessada na PAN utilizando o método primeiramente descrito por Ericson e Kurol, que é baseado nas seguintes medidas:

Ângulo Alfa: O ângulo formado pelo longo eixo do canino e a linha média;

D: A distância, em mm, do canino inclinado para o plano oclusal;

Setor: A posição mesial da coroa no setor 1-5. Eu colei o diagrama deles aqui.

#canines #orthodontics #impaction

 

Eles desenvolveram uma regressão logística para determinar os pontos de corte dos resultados bem-sucedidos e malsucedidos. Eles também utilizaram um programa chamado ROC (Receiver Operating Characterstic) para calcular a força de predição do teste. Eu achei tais programas complexos e muito apropriados.

Informações sobre a taxa de sucesso, etc., da remoção dos caninos decíduos foram incluídas no artigo anterior deles e num post anterior neste blog. Essencialmente, eles mostraram que remover os caninos decíduos foi uma medida efetiva.

O que eles encontraram no estudo?

Eu achei que foi realmente interessante que eles acharam o seguinte:

A extração dos caninos decíduos foi a variável que mais afetou a erupção dos caninos decíduos deslocados pela palatina, seguido pelo ângulo alfa, o setor medido e a idade do paciente.

Eles concluíram o seguinte:

É mais provável que a extração interceptativa traga benefício quando os ângulos alfas estiverem entre 20 e 30 graus e o deslocamento palatino do canino esteja entre o setor 2 e 3.

Apenas observar (sem extrair) pode ser bem-sucedido para pacientes com deslocamento palatino dos caninos com um ângulo alfa de menos de 20 graus no setor 2.

Quando o ângulo alfa for maior do que 30 graus e localizado no setor 4, é provável que a extração interceptativa não seja efetiva. O que significa que também poderemos precisar a fazer exposição e o alinhamento quando indicado.

Eles demostraram isso com belos gráficos e eu os incluí aqui. Posso ser processado por isso, mas acho que eles ajudam bastante.

O que eu pensei?

Eu achei desde o começo que foi um estudo pequeno e ótimo que respondeu a uma pergunta clínica muito relevante. A randomização, o escondimento e a alocação foram bem-feitas. Eu tenho uma leve desconfiança sobre o cegamento no estudo anterior, mas que não é relevante para essa parte do estudo, pois as radiografias pré-tratamento foram cegadas.

A principal limitação do estudo é que apenas foram incluídos os casos com um bom alinhamento inicial antes do tratamento. Não ficou claro para mim o motivo de terem feito isso. Eu acho que isso é importante, pois significa que os achados somente são relevantes para as crianças com deslocamento palatino dos caninos com arcadas bem alinhadas.

Entretanto, são comentários pequenos e acho que, no geral, este artigo nos traz informações clínicas ótimas e úteis.

 

Traduzido por Klaus Barretto Lopes

Instrutor de Ortodontia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil

Professor Visitante da Universidade de Manchester, Inglaterra, Reino Unido

 

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