September 04, 2017

Marketing Ortodôntico: Os pesquisadores estão desatualizados?

Marketing Ortodôntico: Os pesquisadores estão desatualizados?

 Eu já postei muitas vezes sobre a pobre evidência que está por trás dos novos materiais e das novas técnicas ortodônticas que são anunciadas agressivamente. Este post é sobre um novo artigo a respeito deste importante problema.

Nos últimos anos, existem muitos novos produtos em desenvolvimento que as companhias têm promovido agressivamente sem evidência clínica. Além disso, quando os pesquisadores independentes estudaram tais produtos, a conclusão que eles chegaram é que eles possuem poucas vantagens sobre os convencionais. Eu postei sobre isso antes e fui acusado de ser muito crítico, de fazer bullying e de pregar de um púlpito eletrônico. Portanto, eu fiquei muito interessado neste novo artigo publicado pela Progress in Orthodontics.

Um grupo do leste de Londres e de Bern, na Suíssa, fizeram este estudo.

Clinical evaluation of marketed orthodontic products: are researchers behind the times? A meta-epidemiological study

Seehra et al. Progress in Orthodontics (2017) 18:14 DOI 10.1186/s40510-017-0168-y

Na introdução, os autores ressaltaram que os interesses financeiros têm levado a anúncios agressivos e à adoção precoce de produtos não testados. Exemplos são os braquetes auto-ligados, as micro-perfurações e a aplicação de vibração. Acadêmicos fizeram pesquisas independentes sobre estes assuntos. Isso pode representar um desperdício de pesquisa. Como resultado, eles quiseram avaliar a prevalência dos estudos clínicos em Ortodontia que avaliaram produtos promovidos comercialmente.

O que eles fizeram?

Eles fizeram uma revisão sistemática padrão e bem conduzida. Eles incluíram todos os estudos clínicos randomizados num período de 5 anos (2012-2016) que avaliaram intervenções ortodônticas com um grupo controle. Quando obtiveram a amostra final, avaliaram os seguintes dados:

  • Região da autoria
  • A intervenção anunciada
  • A direção do efeito do tratamento (positivo/negativo)
  • Declaração de patrocínio/financiamento/conflito de interesses
O que eles acharam?

Eles encontraram 84 estudos clínicos randomizados. Os europeus fizeram a maioria deles (48%), não americanos e europeus publicaram 33% e apenas 17% foram feitos nos Estados Unidos.

Quarenta e cinco por cento dos estudos envolveram análises de produtos anunciados após a introdução dos mesmos. O restante dos estudos avaliou intervenções não clínicas e não anunciadas, como por exemplo, modificação do crescimento, alças de fechamento etc.

Eles encontraram um efeito positivo do tratamento em mais de 50% do número total de estudos.

A conclusão geral deles foi:

“Metade dos estudos ortodônticos envolveram produtos anunciados e quase 44% relataram não existir melhora devido ao produto”.

O que eu pensei?

Este foi um artigo muito relevante e interessante. Os autores escreveram uma bela discussão e estes foram os pontos principais:

Primeiro, nós precisamos ter pesquisas adequadas como parte do desenvolvimento de novos produtos.

Importante, eles acharam que um terço dos estudos focaram na aceleração do tratamento e mostraram pouca diferença significativa na taxa de movimentação dentária.

Eles ressaltaram que o licenciamento de produtos novos não requer dados clínicos para dar suporte. Entretanto, na ausência de evidência clínica, anúncios de aceleração do tratamento ou de redução de extrações não deveriam ser feitos.

Finalmente, eu achei que eles tocaram num ponto realmente importante, que foi que a pesquisa acadêmica traz um custo financeiro e de oportunidade. Se as companhias tivessem feito a pesquisa antes do lançamento do produto, o tempo e o valor investido poderia ter sido gasto em outras pesquisas úteis. Isso resultou em desperdício de pesquisa.

Meu comentário final neste post é um pedido aos líderes formadores de opinião e isso pode acabar não sendo ouvido. Por favor, pensem com cuidado sobre a promoção de produtos em desenvolvimento (pegando o dinheiro) que carecem de evidência. Vocês têm uma responsabilidade com relação aos nossos pacientes, colegas ortodontistas e pesquisadores acadêmicos.

Traduzido por Klaus Barretto Lopes

Instrutor de Ortodontia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil

Professor Visitante da Universidade de Manchester, Inglaterra, Reino Unido

 

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