January 08, 2018

Não existe evidência de que o AcceleDent aumente a taxa de fechamento de espaços: Um novo estudo

Este novo artigo nos traz mais informações sobre a ausência de efeito do dispositivo AcceleDent. Não seria a hora da AcceleDent modificar o seu material promocional?

A maioria dos leitores deste blog já sabem que eu desafiei algumas alegações feitas por companhias comerciais e pelos seus Líderes Formadores de Opinião. Eu acho isso importante, pois nossos pacientes são convencidos a pagar por intervenções com falta de evidência. Uma das novas intervenções é o AcceleDent, que é um dispositivo vibratório intra-oral utilizado 20 minutos por dia, cujo efeito deveria ser o de acelerar o tratamento ortodôntico. Eu já postei sobre isto várias vezes.

Peter Miles, um especialista em Ortodontia australiano, liderou um grupo que fez o seguinte estudo. O AJO-DDO publicou o artigo.

Assessment of the rate of premolar extraction space closure in the maxillary arch with the AcceleDent Aura apliance vs no appliance in adolescents: A single-blind randomized clinical trial

Peter Miles, Elizabeth Fisher, Nikolaos Pandis

AJO Volume 153, Issue 1, Pages 8–14

DOI:  http://dx.doi.org/10.1016/j.ajodo.2017.08.007

Este é o segundo de uma série de artigos sobre o estudo clínico deles. No primeiro artigo, eles observaram o efeito do AcceleDent sobre o alinhamento inicial. Eles encontraram que o AcceleDent não teve efeito. No segundo artigo, eles procuraram por qualquer efeito sobre a taxa de fechamento de espaço de extrações. Eles perguntaram:

“O AcceleDent aumenta a taxa de fechamento de espaço de extrações de pré-molares superiores? “

O que eles fizeram?

Eles fizeram um estudo controlado randomizado com alocação paralela de tratamento em 1:1.

A PICO foi:

Participantes: Pacientes em tratamento ortodôntico com menos de 16 anos de idade, para quem foi planejado extrações de pré-molares para o tratamento da má-oclusão de Classe II. Eles não planejaram extrações inferiores.

Intervenção: AcceleDent Aura utilizado 20 minutos por dia

Comparação: Ausência de intervenção adicional, ou seja, tratamento convencional.

Desfecho: Taxa de fechamento de espaço. Eles mediram isto em modelos de estudo com paquímetros digitais.

A randomização, a geração de sequência e a ocultação foram bem-feitas. O operador e a pessoa que mediu os modelos foram cegados para a alocação do tratamento. A análise estatística foi apropriada e incluiu uma análise multivariada relevante. Eles conduziram o cálculo do tamanho da amostra.

O que eles encontraram?

Eles encontraram que o uso do AcceleDent não teve efeito na taxa de fechamento de espaço. Na análise univariada, foram encontradas diferenças de apenas 0,05 mm na taxa de fechamento de espaço. Isto não foi estatisticamente significante. Quando fizeram a análise multivariada e incluíram os possíveis fatores de confusão, os resultados não foram alterados.

Analisando a colaboração com o dispositivo, foi encontrado que apenas 35% dos pacientes colaboraram bem (eles utilizaram o dispositivo mais que 75% do tempo sugerido). Eles também testaram o efeito da colaboração sobre a taxa de fechamento de espaço e não houve diferença.

O que eu pensei?

Eu achei que este foi um bom estudo controlado, que foi bem conduzido e bem relatado. Os achados são relevantes para a nossa clínica.

Uma crítica que poderia ser feita é que os pacientes não foram muito colaboradores no uso do AcceleDent. Porém, isto provavelmente reflete a clínica do “mundo real”. Sendo assim, o estudo mede a efetividade clínica e pode ser generalizado para a maioria da prática clínica. Eu observei outros estudos com o AcceleDent e um estudo não pode relatar a colaboração porque os componentes de gravação do dispositivo não funcionaram. O outro estudo não relatou colaboração.

Consequentemente, eu acho que nós podemos concluir que este é um outro bom estudo controlado que não encontrou nenhuma evidência de que o AcceleDent seja efetivo. Porém, eu gostaria de ver um estudo sobre o tempo total de duração de tratamento. Apesar disto, se não existe efeito sobre o alinhamento e sobre o fechamento de espaço, eu ficaria muito surpreso se as conclusões gerais mudassem.

Eu acho que os autores resumiram adequadamente a estória do AcceleDent em sua discussão quando escreveram:

“É fácil ficar excitado com a possibilidade de novos aparelhos e novas técnicas pelo nosso desejo de oferecer aos nossos pacientes tratamentos ortodônticos mais eficientes e efetivos. Na literatura médica mais ampla, existe evidência do viés do otimismo que ocorre quando os tratamentos mais novos são erradamente acreditados como sendo superiores aos tratamentos mais antigos”.

Alguns se manifestam com fervor e podem ser considerados os pioneiros e se tornado líderes formadores de opinião para as companhias, enquanto outros aguardam por respostas e evidência. Porém, como acontece com muitas novas técnicas e aparelhos, aqueles associados às companhias normalmente são os primeiros a utilizar os aparelhos no consultório e, portanto, são os primeiros a produzir as primeiras publicações, mas isto também leva a um maior potencial para vieses.

Os resultados que eles produzem precisam ser examinados com cuidado com relação à qualidade do desenho do estudo e o potencial risco de viés. Se isto não for feito, os resultados podem ser enganosos. O problema com estudos de baixa qualidade e alto risco de viés é que o nosso grau de certeza em acreditar nos achados deles é baixo. Os pacientes devem ser informados disto para que possam tomar uma decisão completamente informada sobre o teste de uma nova técnica ou dispositivo. Se isto não for feito, o clínico cria uma razão para uma quebra de contrato”.

É o que temos até agora. Eu me pergunto se os líderes formadores de opinião da AcceleDent gostariam de fazer algum comentário. Aqui estão eles:

Líderes formadores de opinião da AcceleDent.

 

Traduzido por Klaus Barretto Lopes

Instrutor de Ortodontia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil

Professor Visitante da Universidade de Manchester, Inglaterra, Reino Unido

 

 

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