AcceleDent não tem efeito sobre a reabsorção radicular de origem ortodôntica; estudos estão vindo em grande número e rapidamente
AcceleDent não tem efeito sobre a reabsorção radicular de origem ortodôntica; estudos estão vindo em grande número e rapidamente
Nós temos outro relato oriundo da análise dos dados de um ensaio que eu discuti previamente sobre a reabsorção radicular de origem ortodôntica. Isso, na verdade, é um subconjunto dos dados desse grande estudo. Um grupo do Sul da Inglaterra, na sua maior parte de Kent, escreveu esse artigo. Isso fica no belo Sul e é muito diferente do Norte, onde eu moro.
Andrew DiBiase et al. Am J Orthod Dentofacial Orthop 2016;150:918-27. http://dx.doi.org/10.1016/j.ajodo.2016.06.025
Em primeiro lugar, eu gostaria de ressaltar que o Acceledent nunca anunciou que o uso do aparelho deles resultaria na redução da reabsorção radicular de origem ortodôntica. Os autores basearam a pergunta do estudo deles na premissa de que existe um aumento do risco de reabsorção dentária com o tratamento ortodôntico prolongado. Como resultado, o tratamento reduzido com o Acceledent deveria reduzir a reabsorção radicular. Isso foi o que eles testaram no estudo deles.
O que eles fizeram?
O objetivo deles foi investigar a reabsorção radicular que ocorreu durante o alinhamento dentário com aparelhos fixos, suplementado com forças vibracionais oriundas do dispositivo AcceleDent.
A hipótese nula foi que a força vibratória suplementar não afetaria os níveis de reabsorção radicular durante o tratamento.
A PICO foi:
Participantes: pacientes ortodônticos com idades abaixo de 20 anos com apinhamento inferior com indicação de extrações de pré-molares inferiores e de tratamento com aparelho fixo.
Intervenção: AcceleDent ou sham AcceleDent
Controle: tratamento convencional (sem acidente)
Desfecho: quantidade de reabsorção radicular idiopática induzida pelo tratamento ortodôntico.
Eles alocaram randomizadamente uma amostra de 81 pacientes para as intervenções. Eles mediram a reabsorção radicular utilizando radiografias periapicais de cone longo, que foram obtidas ao início do tratamento e ao final do alinhamento.
Os métodos de randomização e alocação foram bons. Um examinador “cegado” para a alocação da intervenção mediu as radiografias na maneira padrão.
Eles conduziram um cálculo do tamanho da amostra utilizando o desfecho primário do estudo principal, que foi a taxa de alinhamento dentário. Esse não é o desfecho relatado nesse artigo e isso é importante. Eu voltarei nisso mais tarde.
Eles conduziram uma análise estatística complexa que utilizou técnicas multivariadas que levaram em conta relevantes fatores de confusão.
O que eles encontraram?
Eles encontraram que a quantidade de reabsorção radicular em T3 variou entre 0,0 e 3,6 mm, com uma média de 1,08 mm para toda a amostra. Quando eles olharam para o efeito da intervenção, eles encontraram o seguinte:
ACCELEDENT | ACCELEDENT SHAM | Somente Fixo | P | |
Média e 95% IC (mm) | 1,09 (0,84-1,35) | 1,16 (0,75-1,58) | 1,00 (0,61-1,38) |
De fato não houve diferença entre os grupos. É importante notar que as diferenças entre os grupos foram muito pequenas e o intervalo de confiança em 95% foi amplo.
Na discussão eles ressaltaram que os resultados foram similares ao de outros estudos sobre reabsorção radicular. Eles também justificaram o uso das radiografias tradicionais ao invés da tomografia computadorizada de feixe cônico por conta da preocupação com a radiação.
O que eu penso?
Eu postei sobre esse estudo bem desenhado antes. Embora eu ache que o estudo original foi bom, eu tenho consideráveis ressalvas sobre o presente artigo.
O poder do tamanho da amostra
Minha maior ressalva é sobre o tamanho da amostra desse estudo que foi baseado no alinhamento dentário. Isso significa que o estudo foi potencializado para medir essa variável. Como resultado, quando nós analisamos os desfechos secundários o estudo perde a força para detectar a diferença. Eu já cometi esse erro antes!
Os autores levantam esse problema na discussão e conduzem um cálculo do poder do estudo para a reabsorção radicular utilizando os dados que possuíam. Isso revelou que o estudo tinha um poder de 25 a 30%. Isso significa que é improvável que esse estudo tenha detectado a diferença entre as intervenções, pois ele não teve poder estatístico suficiente. Entretanto, nós também devemos olhar para o tamanho da diferença entre os grupos. Você pode ver que ela é pequena. Isso também significa que, se o poder foi aumentado, existe uma chance de que uma diferença similar seja detectada. Nós precisamos ter isso em mente quando nós consideramos os achados desse estudo.
Época de coleta dos dados
Eu acho que é importante considerar os tempos da coleta dos dados. Eles coletaram os dados ao final do alinhamento. Eu sinto que seria mais relevante se eles tivessem coletado esses dados ao final do tratamento. Isso porque quando nós consideramos reabsorção radicular nós precisamos levar em consideração o uso de fios retangulares e elásticos de Classe II.
Cooperação dos pacientes
Eu também estou ciente que uma crítica a esse estudo é que os investigadores não levaram em conta a cooperação do paciente. Eles não puderam fazer isso porque os temporizadores do dispositivo AcceleDent falharam. Isso porque nós deveríamos considerar que isso é um estudo do “mundo real”. Nesse caso nós devemos aceitar que todos os pacientes não devem cooperar com o tratamento. isso significa que os investigadores estudaram os efeitos de dar (ou vender) o dispositivo para o paciente. Essa é uma metodologia robusta.
Em resumo, eu sinto que esse estudo somente nos fornece uma indicação de quando a reabsorção radicular é influenciada pelo AcceleDent. Ele não nos fornece uma resposta robusta por conta da falta de poder. Como eu mencionei antes, muito mais trabalho precisa ser feito sobre novas intervenções para fazer os dentes se moverem mais rápido antes de nós os recomendarmos aos nossos pacientes.
Traduzido por Klaus Barretto Lopes
Professor Visitante da Universidade de Manchester, Inglaterra, Reino Unido
Instrutor de Ortodontia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil
Emeritus Professor of Orthodontics, University of Manchester, UK.