July 23, 2018

A tipo de pisada está relacionada à má-oclusão!

De vez em quando eu me deparo com alguns artigos estranhos. Esse novo artigo observou a associação entre o tipo de pisada e a má-oclusão.

Os autores desse artigo começaram afirmando que os distúrbios funcionais dos músculos mastigatórios poderiam ser transmitidos a outros músculos por meio de “cadeias musculares”. E que isso também poderia ser revertido e que o sistema dentário poderia ser influenciado por desequilíbrios em outras áreas do corpo. Então, eles sugerem que a correção da má-oclusão mais cedo pode minimizar ou eliminar a necessidade de futuros tratamentos. Assim, precisamos avaliar e corrigir mais cedo a posição da pisada.

Um grupo da Espanha fez o estudo que foi publicado pelo Medicine Journal.

Relationship between foot posture and dental malocclusions in children aged 6 to 9 years.A cross-sectional study

Ana Marchena-Rodriguez et al.

Medicine: Doi http://dx.doi.org/10.1097/MD.0000000000010701

Eles fizeram o estudo para responder à pergunta:

“Existe correlação entre a posição de pisada, os parâmetros de pegada e a má-oclusão anteroposterior?”

O que eles fizeram?

Eles fizeram um estudo transversal com 189 crianças entre seis e nove anos de idade, que foram selecionados aleatoriamente numa escola em Málaga. Eles abordaram os pais das crianças usando um questionário, que fez uma série de perguntas sobre a posição de pisada, respiração etc., e se isso influenciava no critério de inclusão/exclusão. Foi um questionário extenso.

Então, eles examinaram as crianças em suas escolas. Eles mediram o seguinte:

  • Índice de postura dos pés (FPI): Avalia a natureza da posição da pisada em 3 planos no espaço. Um podólogo expertfez as medidas.
  • Ângulo de Clark: O podólogo expertmediu isso a partir de um traçado sobre um pedigrama.
  • Classificação de Angle: Um ortodontista coletou esses dados.

O ortodontista e o podólogo foram cegados para as outras medições.

Eles escolheram o pé direito para a análise e mediram a associação entre as variáveis com a Correlação de Pearson.

O que eles encontraram?

Eles encontraram que 67% das crianças tinham uma relação molar de Classe I, 21% de Classe II e 10% de Classe III. Eles apresentaram os dados do ângulo de Clark e FPI como dados paramétricos e, então, fizeram um teste não-paramétrico entre os grupos de Classificação de Angle (mas isso não mede a associação). Aqui estão os dados numa tabela importada:

Eu pesquisei sobre os valores normais para o FPIe, em crianças, ele é 3,7 (DP=2,5). Os valores que eles relataram estão dentro dessa variação.

A análise estatística deles revelou que existiu uma associação entre FPI, o ângulo de Clark e a classificação dentária. Então, eles concluíram:

“O ângulo de Clark diminui na medida em que a Classificação de Angle aumenta da Classe I para a Classe III, enquanto a FPI é maior na medida em que a Classificação de Angle aumenta da Classe I para a Classe III”.

Esta afirmação é importante, pois eles sugerem que a Classificação de Angle, que é uma escala nominal, “aumenta”. Isso é um erro, pois uma escala nominal não pode aumentar.

Na verdade, a apresentação dos dados e a análise estatística foram confusas e possivelmente incorretas.

O que eu pensei?

Nos últimos anos, eu participei de muitos debates neste blog com a Ortodontia “marginal”. Assim como outras pessoas, eu tenho pedido, consistentemente, por evidências para dar suporte às suas teorias. Alguns dos praticantes marginais sinalizaram e, para ser sincero, se isso é o melhor que pode ser feito, então não existe evidência para suportar as teorias. As principais deficiências do artigo são:

  • Eles não forneceram detalhes suficientes de como eles selecionaram a população de crianças;
  • A análise estatística e a apresentação dos dados são confusas;
  • Associação não é causalidade;
  • Os valores do FPI estavam dentro da variação da população normal;
  • O uso da Classificação de Angle é um erro importante, pois ela pode ser influenciada por muitos fatores de confusão, como, por exemplo, dentes ausentes e cáries dentárias. A não ser que a posição de pisada influencie nas cáries!
  • É importante ressaltar que a hipótese que eles estavam testando não é baseada em dados de pesquisa, nem mesmo em sabedoria convencional. Isso é importante, pois se conduzirmos um número suficientemente grande de estudos procurando por algo, então o acharemos!

Eu sei que o meu ponto de vista vai causar alguma discussão. Vamos mantê-la científica?

Finalmente, eu decidi revisar alguns artigos da “Ortodontia marginal” durante o verão. O próximo vai ser um artigo feito pela London School of Orthotropics sobre a prevenção de impacção dos caninos com Ortotropia.

Traduzido por Klaus Barretto Lopes

Instrutor de Ortodontia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil

 

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