Nós não vamos nos enganar de novo? Um novo estudo sobre a aceleração do movimento dentário
Este post é sobre um novo estudo que avaliou a micro perfuração óssea, que é uma forma invasiva de tentar fazer os dentes se movimentarem mais rápido.
Nos últimos anos, vários pesquisadores têm estudado novos métodos no intuito de reduzir a duração do tratamento ortodôntico. Um deles é a micro perfuração óssea ou MPO. Trata-se de uma técnica relativamente invasiva na qual os ortodontistas fazem pequenos buracos na gengiva e no osso alveolar causando um trauma localizado. Eu já postei sobre isso antes e ressaltei que não existem estudos de alta qualidade que tenham avaliado a taxa de movimentação dentária. Portanto, eu fiquei bem interessado nesse novo estudo.
Um grupo da Jordânia fez o estudo e o AJO-DDO o publicou.
Three-dimensional assessment of the effect of micro-osteoperforations on the rate of tooth movement during canine retraction in adults with Class II malocclusion: A randomized controlled clinical trial.
Amal Alkebsi et al
AJO-DDO https://doi.org/10.1016/j.ajodo.2017.11.026
Eu gostaria de agradecer aos autores por fornecerem os seguintes links:
https://youtu.be/XtvrrbmeYPU (Este é um link no qual o autor discute o artigo dele).
https://authors.elsevier.com/a/1X7gA3AGXGaIuf (Neste link o artigo poderá ser acessado até 18 de julho).
O que eles fizeram?
Eles fizeram um estudo clínico randomizado de boca dividida com alocação de 1:1 e intervenções feitas em cada lado da boca.
A PICO foi:
Participantes: Pacientes em tratamento ortodôntico, maiores de 16 anos, com má-oclusão de Classe II, Divisão 1;
Intervenção: Micro perfuração óssea com mini-parafusos com 1,5 mm de largura e entre 3 e 4 mm de profundidade seguindo um protocolo. Uma força de retração foi aplicada a partir de um dispositivo de ancoragem temporária (DAT);
Controle: Ausência da MPO mas com mecânica idêntica a do outro lado da boca;
Desfecho: A taxa de retração dos caninos por mês. Eles mediram isso a partir de imagens escaneadas em 3D com superposição no palato.
É importante ressaltar que eles geraram uma randomização em blocos e o ocultamento foi feito em envelopes selados que foram abertos pelos participantes. Eles coletaram os dados de forma cega.
Eles fizeram um cálculo de tamanho da amostra para garantir que o estudo tivesse poder suficiente.
O que eles encontraram?
Eles recrutaram 35 pacientes e 3 desistiram.
É interessante que não foram encontradas diferenças na taxa de movimentação dentária entre a MPO e os lados controle. Esta é a relevante tabela de dados:
Time | Control Mean (mm)+/-SD | MOP Mean (mm) +/-SD | p | Mean difference (mm) (95% CI) |
---|---|---|---|---|
1 month | 0.67 (0.34) | 0.65 (0.26) | 0.77 | 0.02 (-0.13,0.18) |
2 months | 1.28 (0.5) | 1.36 (0.49) | 0.5 | -0.08 (-0.33,0.16) |
3 months | 1.88 (0.67) | 1.93 (0.74) | 0.76 | -0.05 (-0.4,0.29) |
Assim, eles concluíram que a MPO não teve um efeito na taxa de movimentação dentária.
O que eu pensei?
Eu achei que este estudo foi bom. Os autores o fizeram bem e o relataram concisamente. Eles não têm um interesse comercial na técnica.
Eles utilizaram a técnica de boca dividida e isso foi relevante para investigar uma intervenção sem efeitos cruzados. Eu achei que a randomização, o ocultamento e o cegamento foram adequados.
É interessante que eles aplicaram a MPO com mini-parafusos. Porém, não ficou claro para mim se isso foi diferente do dispositivo Propel. Eu acho que ambos os métodos pareceram causar a mesma quantidade de trauma localizado. Será que um defensor da Propel ou um líder formador de opinião poderiam nos ajudar aqui?
Minha única preocupação com este artigo foi que eles mediram os efeitos de curto prazo da intervenção. Eu teria mais certeza da “ausência de evidência” se eles tivessem medido a movimentação dentária durante um período de tempo maior.
Eu vou me curvar para a nova revolução
Eu acho que este artigo somou ao nosso conhecimento sobre a ausência de evidência de efeito da MPO. Será que este é um outro método de aceleração da movimentação dentária que não tem efeito?
Traduzido por Klaus Barretto Lopes
Instrutor de Ortodontia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil
Emeritus Professor of Orthodontics, University of Manchester, UK.