Qual é o melhor, Invisalign ou Aparelhos fixos? Será que esse estudo pode nos ajudar?
Qual é o melhor, Invisalign ou Aparelhos fixos? Será que esse estudo pode nos ajudar?
Sem dúvida o desenvolvimento dos alinhadores mudou a Ortodontia. Porém, nós ainda não sabemos se os alinhadores funcionam tão bem quanto os aparelhos fixos. Esse post é sobre um estudo recentemente publicado que nos traz alguma informação.
Ainda que os alinhadores tenham se tornado parte do padrão de alternativas de tratamento ortodôntico, eu tenho visto poucos estudos que tenham avaliado a sua efetividade. Eu acho que essa falta de pesquisa pode refletir a natureza desse campo que se move rapidamente, uma vez que o desenvolvimento dos aparelhos pode tornar os estudos redundantes. Entretanto, isso não significa que novos aparelhos não devam ser estudados.
Eu encontrei esse novo estudo no AJO. É um estudo retrospectivo. Normalmente eu não reviso esse tipo de pesquisa. Porém, pelo fato de poder ser “o melhor que nós temos”, eu decidi dar uma boa olhada nele.
Gu J et al
Am J Orthod Dentofacial Orthop. 2017 Feb;151(2):259-266. doi: 10.1016/j.ajodo.2016.06.041.
Um grupo da Columbus, Ohio, fez esse estudo. Eu tive um contato próximo com esse departamento muitos anos atrás. Eu fui até assistir o time de baseball Columbus Clippers.
Em sua revisão de literatura foi ressaltado que existia pouca evidência para suportar o uso de alinhadores. Eles queriam responder a seguinte questão:
O Invisalign foi tão efetivo quanto os aparelhos fixos?
O que eles fizeram?
Eles conduziram um estudo caso-controle retrospectivo utilizando a documentação de pacientes que tinham sido tratados no Departamento da Universidade em OSU. Eles analisaram a documentação de 1500 pacientes tratados com o aparelho fixo convencional e 250 tratados com o Invisalign. Os pacientes foram tratados por ortodontistas e residentes da Faculdade. Eles afirmaram que não selecionaram os pacientes de acordo com a qualidade dos seus tratamentos.
Ao final da revisão das documentações eles identificaram 62 pacientes que usaram aparelho o fixo e 61 que usaram o Invisalign. Em seguida eles removeram os pacientes que acharam ter terminado o tratamento precocemente. A amostra final ficou com 48 pacientes em cada grupo.
O desfecho primário foi o índice PAR. O desfecho secundário foi a duração do tratamento. Eles conduziram uma análise estatística apropriada.
O que eles encontraram?
Eles observaram as características pré-tratamento dos dois grupos e não encontraram nenhuma diferença, exceto que o grupo Invisalign era mais velho (26 anos de idade) que o grupo com aparelho fixo (22,1 anos de idade).
Ao final do tratamento eles encontraram:
Start | Finish | Post-retention | |
---|---|---|---|
Maxilla | 9.6 (8.4-10.7) | 1.7 (1.3-2.0) | 2.8 (2.3-3.1) |
Mandible | 7.4 (6.5-8.2) | 1.1 (0.8-1.3) | 2.1 (1.6-2.5) |
p | NS | 0.001 |
Eles também mostraram que os aparelhos fixos foram significativamente mais efetivos na redução do índice PAR que o Invisalign.
A conclusão geral deles foi que:
Os aparelhos fixos foram mais efetivos do que o Invisalign para melhorar a maloclusão e que o tratamento com Invisalign foi mais rápido.
O que eu penso?
Primeiramente, esse foi um estudo retrospectivo. Ainda que esse tipo de estudo nos forneça alguma informação, nós devemos prestar bastante atenção aos métodos. Isso porque nós precisamos avaliar qualquer evidência de viés de seleção na amostra. Quando eu avalio isso eu me pergunto se o método de seleção da documentação dos pacientes poderia resultar num significante viés de seleção. Por exemplo, nós precisamos considerar que a amostra final incluiu 48/1500 (3,2%) de aparelhos fixos convencionais e 48/250 (19,2%) de casos Invisalign do total arquivado. Mais importante ainda foi que eles rejeitaram os casos que eles acharam que terminaram o tratamento precocemente. Nós precisamos nos perguntar se os resultados teriam sido os mesmos se esses casos terminados tivessem sido incluídos. Apesar de eu estar sendo crítico aqui, nós precisamos dar crédito aos autores pelo relatório detalhado que nos permitiu considerar o risco de viés.
Meu próximo passo ao analisar o artigo foi pensar se o viés poderia ter influenciado nos resultados. É importante lembrar que nós não devemos fazer suposições sobre a direção de nenhum viés. Ele pode ir para qualquer direção. Consequentemente, eu acho que nós podemos concluir que existem limitadas diferenças entre os tratamentos com o Invisalign e com os aparelhos fixos. Entretanto, nós precisamos ser cautelosos e os autores ressaltaram isso.
Esse estudo também nos fornece muitos dados que podem ser utilizados para o cálculo amostral de um estudo definitivo. Desse modo, esse estudo é útil.
Eu acabei de encontrar uma nova revisão sistemática sobre a efetividade dos alinhadores que eu discutirei no meu próximo post. Vamos ver se conseguimos descobrir algo mais…
Traduzido por Klaus Barretto Lopes
Professor Visitante da Universidade de Manchester, Inglaterra, Reino Unido
Instrutor de Ortodontia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil
Emeritus Professor of Orthodontics, University of Manchester, UK.