Seria fraca a pesquisa na Ortodontia? A Pirâmide da Negação revisitada
Este post é sobre a rejeição dos achados das pesquisas. Eu decidi revisitar a “Pirâmide da Negação”, a qual ressalta as razões para a ilógica rejeição das pesquisas.
Um dos meus primeiros posts foi sobre uma aula que eu dei num simpósio sobre tratamento precoce. Numa determinada parte da apresentação, eu discuti a respeito das explicações que as pessoas dão quando rejeitam ou ignoram as pesquisas. Eu me baseei nas questões que as pessoas me perguntaram em aulas, mídias sociais e conversas de corredor com o “bom e o melhor” da Ortodontia.
Em primeiro lugar, eu gostaria de ressaltar que não estou encorajando a aceitação cega de todos os achados de pesquisas. Também precisamos nos lembrar que o tratamento baseado em evidências não é somente baseado em resultados de estudos clínicos controlados.
Porém, eu gostaria de discutir a rejeição dos achados na ausência de uma avaliação crítica apropriada. Isso me levou a propor a Pirâmide da Negação.
Vamos dar uma olhada nos níveis de negação.
Eu sei mais
Isto significa que, apesar da evidência do projeto de pesquisa, a pessoa simplesmente não concorda com os achados. Na verdade, ela decidiu dar mais valor à experiência clínica do que aos achados da pesquisa.
Nós sabemos mais
Isto acontece quando um grupo ignora a evidência e apresenta uma justificativa para isso. Mais uma vez, isto é frequentemente baseado em experiência clínica ou em outras influências financeiras.
Você deveria ter nos perguntado?
Eu me dei conta disso quando publicamos pela primeira vez os resultados do nosso estudo sobre o tratamento da Classe II. Várias “autoridades da Ortodontia” me disseram que os resultados do estudo eram desapontadores e que era realmente uma pena que nós não tínhamos discutido o tratamento com eles. Eles acharam que nós tínhamos cometido erros no desenho dos nossos aparelhos e na escolha da mecânica. Por exemplo, alguém me disse que o Twin Block que nós usamos não funcionou por conta do desenho das molas dos molares.
De alguma forma, eles estavam ressaltando que os estudos estavam sujeitos ao viés de proficiência. Porém, quando desenhamos os estudos, nosso grupo concordou com os protocolos de tratamento. Nós também fizemos cursos sobre o uso dos nossos aparelhos.
Estes comentários são feitos sobre os estudos com frequência e, mesmo que sejam valiosos, devemos interpretá-los com cuidado.
Você fez isso errado?
Eles sugeriram que o estudo era simplesmente falho. Nós sabemos que a publicação de um estudo não garante que ele seja bom. Assim, precisamos utilizar o nosso conhecimento científico e interpretar os achados com respeito aos erros metodológicos. Eu espero que este blog e outros métodos de análise crítica possam ajudar nisso.
Infelizmente, pessoas propõem razões espúrias para a rejeição dos achados de pesquisas. Por exemplo, eles acham que os seus resultados prediletos não foram medidos. Eles também podem sugerir que não existem resultados relevantes para o tratamento que eles fazem. É interessante que isso está se tornando mais comum com a descoberta de que a Ortodontia cura os problemas respiratórios. A maioria dos estudos controlados na Ortodontia não inclui medidas de respiração. Talvez, os pesquisadores devessem incluí-las, para ao menos responder às questões dos “médicos respiratórios ortodônticos”.
Não individualizados
Um criticismo comum aos estudos controlados é que os participantes são tratados “como um número”.
Consequentemente, o tratamento é tão rigorosamente prescrito que não pode ser individualizado. De verdade, os pesquisadores não estão avaliando a “arte da Ortodontia”. Eu sinto fortemente que isso está incorreto. Precisamos nos lembrar que os operadores num estudo controlado são eticamente obrigados a tratar o paciente da melhor forma possível. Isto significa que eles adaptam suas mecânicas para fornecer um tratamento ótimo. Isto também garante que o estudo tenha validade externa. Além disso, não seria ético tratar um paciente exatamente como no protocolo do estudo se reconhecerem que estavam causando dano.
Meus pacientes são diferentes
A pessoa rejeita os achados por acreditar que os mesmos não são aplicáveis aos seus pacientes. Isto significa que os pacientes dela são tão diferentes que são geneticamente, sociologicamente e morfologicamente diferentes daqueles do estudo controlado. Tem pouca coisa a ser dita aqui…
O bingo da Pirâmide da negação
Às vezes, quando vejo estes comentários num estudo, jogo um tipo de bingo e conto o número de vezes que os níveis de negação são referidos. Eu desconfio que existe uma associação positiva entre a pontuação da “negação” e o nível de picaretagem.
Vamos bater um papo sobre isso…
Traduzido por Klaus Barretto Lopes
Instrutor de Ortodontia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil
Emeritus Professor of Orthodontics, University of Manchester, UK.