Qual é o melhor fio para alinhamento? Uma Revisão Sistemática da Cochrane
Existem muitos tipos de fios para alinhamento, mas qual é o melhor? Esta nova Revisão da Cochrane nos traz alguma informação.
O primeiro estudo clínico que fiz avaliou a efetividade de dois fios para o alinhamento. Não havíamos feito nenhum estudo clínico antes, então pegamos um livro em uma livraria e seguimos as instruções! Cometemos muitos erros no estudo. O mais flagrante foi que os fios não possuíam propriedades mecânicas diferentes. Portanto, não foi surpresa que não tenham apresentado diferenças na performanceclínica. Desde então, muitos pesquisadores avaliaram os efeitos de diferentes fios de alinhamento. Os resultados de tais estudos são diversos. Assim, esta Revisão da Cochrane é oportuna.
Um grupo da China e de Dundee, na Escócia, fez esta revisão, que foi uma atualização de uma revisão prévia.
Initial arch wires used in orthodontic treatment with fixed appliances
Wang Y, Liu C, Jian F, McIntyre GT, Millett DT, Hickman J, Lai W. Cochrane Database of Systematic Reviews 2018, Issue 7. Art. No.: CD007859. DOI: 10.1002/14651858.CD007859.pub4.
Eles avaliaram os efeitos de diferentes fios no estágio de alinhamento do tratamento ortodôntico.
O que eles fizeram?
A PICO foi:
Participantes: Pacientes em tratamento ortodôntico que foram tratados com aparelhos fixos;
Intervenção: Qualquer fio de alinhamento;
Comparador: Outro fio de alinhamento;
Resultado: Os resultados primários foram a taxa de alinhamento e a incidência/prevalência e quantidade de reabsorção radicular. Os resultados secundários incluíram o tempo de alinhamento e dor.
Eles incluíram apenas estudos controlados randomizados.
Eles fizeram uma busca padrão na base de dados eletrônica, seguida de relevante busca manual e da revisão das referências secundárias. Finalmente, eles contataram os autores de todos os estudos que queriam incluir para esclarecer os detalhes dos estudos.
Dois autores avaliaram os títulos, conduziram uma avaliação do risco de viés com a ferramenta da Cochrane para o risco de vieses e extraíram os dados. Em seguida, fizeram a relevante meta-análise.
O que eles encontraram?
Foram identificados 12 RCTs, sendo que foram incluídos três estudos novos. Isto forneceu dados de 799 participantes, o que é um número substancial para as revisões ortodônticas.
Quando avaliaram o risco de viés, os autores classificaram três estudos com um alto risco de viés (incluindo o que eu fiz!), três com um baixo risco de viés e acharam que em seis estudos não estava claro o risco de viés.
Eles fizeram várias comparações entre os tipos de fios. Para a maioria delas, os autores concluíram que existia evidência insuficiente para determinar se existiam diferenças. Eu não tenho espaço suficiente para avaliar todas as comparações feitas. Porém, acho que duas foram clinicamente importantes.
Eles não encontraram diferenças entre o fio de aço multifilamentado e o de Ni-Ti superelástico em termos de taxa de alinhamento ou experiência de dor. O nível de evidência disso foi considerado moderado.
Eles acharam um estudo que mostrou que o Ni-Ti superelástico coaxial produziu o maior movimento dentário durante um período de 12 meses. A média da diferença foi de 6,7 mm num período de 12 semanas. O nível de evidência disso também foi considerado moderado. Porém, o estudo clínico foi pequeno, com 24 pacientes, e os intervalos de confiança foram consideravelmente amplos (7,98-5,55).
O que eu pensei?
Tratou-se de uma Revisão da Cochrane. Geralmente, são revisões conduzidas com alto padrão, pois o grupo editorial é bem exigente e espera que os revisores sigam um protocolo rigoroso. Também existem múltiplas conferências de controle de qualidade e o processo editorial final é duro. Assim, as revisões são bem conduzidas e relatadas. Assim, não foi uma surpresa para mim concluir que foi uma boa revisão.
As conclusões foram claras. Porém, algumas pessoas podem achar que elas foram desapontadoras, pois não encontraram nenhuma diferença verdadeira. Embora isso não seja comum para revisões ortodônticas, acho que os resultados são interessantes. Um dos resultados mais relevantes clinicamente é que eles não encontraram diferença na movimentação dentária entre os fios de aço multifilamentados e o fio de filamento único, Ni-Ti. Precisamos nos lembrar que isso é uma “ausência de evidência” e isso não significa que não exista diferença entre os fios, significa apenas que eles não encontraram nenhuma evidência para sugerir que exista.
Alguns podem dizer que isso significa que deveríamos usar os fios multifilamentados, que são mais baratos. Porém, a experiência clínica sugere que isso não seria uma coisa boa a se fazer. Ainda me lembro de ver úlceras traumáticas nos pacientes após a colocação de fios multifilamentados devido às pontas que se desfiavam.
Esta revisão também enfatiza uma conclusão de um grande número de pesquisas sobre bráquetes e fios, que mostra que a maior influência sobre o tratamento é, provavelmente, do operador, pois os efeitos dos bráquetes e dos fios são limitados.
Traduzido por Klaus Barretto Lopes
Instrutor de Ortodontia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil
Emeritus Professor of Orthodontics, University of Manchester, UK.