October 01, 2018

Um novo estudo clínico randomizado sobre a Expansão Rápida da Maxila apoiada em mini-implantes

A Expansão Rápida da Maxila (ERM) é um método importante de tratamento ortodôntico. Um desenvolvimento recente tem sido a ERM apoiada em mini-implantes. Esta nova pesquisa compara a ERM apoiada em mini-implantes com a apoiada em dentes.

Tradicionalmente, os dispositivos de ERM são colocados diretamente nos dentes. Tem sido sugerido que este método nem sempre alcança a expansão esquelética máxima devido à inclinação dos molares. Recentemente, alguns dispositivos de expansão ancorados em osso têm sido desenvolvidos com o objetivo de reduzir estes efeitos negativos.

Um grupo da Turquia fez este estudo para comparar os dispositivos de ERM ancorados em osso ou em dentes. O Angle Orthodontist publicou o artigo:

Evaluation of miniscrew-supported rapid maxillary expansion in adolescents: A prospective randomized clinical trial

Tugce Celenk-Koca et al

Angle Orthodontist: Advanced access: DOI: 10.2319/011518-42.1

O que eles perguntaram?

Eles perguntaram se existia alguma diferença entre os dispositivos de ERM convencionais e os ancorados em mini-implantes.

O que eles fizeram?

Eles conduziram um estudo clinico randomizado paralelo, com dois braços e alocação das intervenções de 1:1. A PICO foi:

Participantes: Pacientes ortodônticos precisando de expansão de 8mm com idade média de 13,8 anos (DP=1,2);

Intervenção: ERM ancorada em mini-implantes;

Controle: ERM ancorado em molares e pré-molares;

Resultados: O resultado primário foi a correção da mordida cruzada. Os resultados secundários foram medições esqueléticas e dentárias (incluindo reabsorção radicular) obtidas de imagens tomográficas computadorizadas de feixe cônico (TCFC) no início da expansão (T1) e 6 meses depois (T2).

Eles fizeram uma randomização pré-preparada e ocultaram a alocação em envelopes selados. Eles conduziram uma estatística univariada simples.

O que eles encontraram?

Os grupos eram similares ao início do tratamento. Eles alocaram de forma randomizada ambas as intervenções, com 21 pacientes em cada grupo. Infelizmente, não encontrei nenhum dado informando se as mordidas cruzadas foram corrigidas. Eu extraí estes dados da TCFC e calculei os intervalos de confiança. Eu somente apresentei isso para os dados coletados em T2, pois isto nos fornece informação suficiente sobre o tamanho do efeito.

 

 

Convencional Ancoragem óssea Diferença
Largura do forame incisivo 4,7 6,7 1,9 (1,19-2,6)
Largura sutural nos pré-molares 2,5 4,6 2,1 (1,4-2,7)
Largura sutural nos molares 2,0 3,9 1,9 (1,2-2,5)

Quando eles analisaram a inclinação vestíbulo-lingual dos dentes eles encontraram:

  Convencional Ancoragem óssea Diferença
Pré-molar 87,7 92,1 4,4 (0,8-7,9)
Molar 94,8 101,4 6,6 (3,6-9,5)

Não foram encontradas diferenças importantes com relação à reabsorção radicular.

Os autores interpretaram os achados e concluíram:

“a expansão ancorada em osso aumentou abertura da sutura maxilar 2,5 vezes mais do que a ancorada em dentes”.

O que eu pensei?

Eu achei que foi um estudo interessante. Apesar disso, existiram algumas áreas que não foram claramente relatadas. Por exemplo, o critério de inclusão foi que os pacientes tinham que ter restrição maxilar. Não encontrei nenhuma informação sobre como eles diagnosticaram esta característica. Eles também não relataram o resultado primário deles.

Foi uma pena que tenha sido mais um artigo que a Angle publicou que não seguiu as normas do CONSORT para o relato de estudos clínicos. Eu achei que tal fato tornou o artigo difícil de ler e de interpretar. Será que o Editor vai solucionar este problema?

Quando analisei as conclusões, fiquei preocupado por eles terem afirmado que a expansão ancorada em osso tinha sido 2,5 vezes o efeito do tratamento da expansão ancorada em dentes. Mais uma vez, não consegui descobrir como eles calcularam este efeito. Nós também precisamos nos lembrar que expressar as diferenças de tratamento desta forma tende a exagerar o efeito do tratamento.

Porém, precisamos analisar o tamanho do efeito da expansão sutural que foi de apenas 2,1mm e o IC sugere que ela poderia ser facilmente 1,4mm ou 2,7mm. O título agora é:

“a expansão ancorada em osso é 2,1mm mais efetiva que a ancorada em dentes”.

Isso não soa tão bem. Mas você pode pensar que isso é clinicamente significante e que seja suficiente para você adotar a expansão ancorada em osso. Mas também precisamos considerar se o trauma adicional e a sobrecarga de cuidados são justificadas para uma diferença na expansão de 2mm. Entretanto, este estudo nos permite dar esta informação para os nossos pacientes, para que possam decidir sobre o método de tratamento que vão receber.

Sinto por ser tão crítico com um estudo que parecia ser bem feito, mas precisamos considerar estas questões quando interpretamos os artigos.

Traduzido por Klaus Barretto Lopes

Instrutor de Ortodontia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil

 

 

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