February 05, 2018

Um novo estudo sobre a aceleração da movimentação dentária com Piezocirurgia. Você nem sempre tem o que quer…

Um novo estudo sobre a aceleração da movimentação dentária com Piezocirurgia. Você nem sempre tem o que quer…

Existem várias técnicas que usamos para tentar acelerar a movimentação dentária. Um novo estudo observa a técnica um pouco invasiva de piezocirurgia.

Piezocisão é uma técnica “minimamente” invasiva de aceleração da movimentação dentária por meio de pequenos traumas feitos no osso alveolar ao longo do tratamento ortodôntico. Um grupo da Turquia e de Massachussets, nos EUA, fez o estudo. O EJO publicou o artigo.

Efficiency of piezosurgery technique in miniscrew supported en-masse retraction: a single-centre, randomized controlled trial

Nilüfer İrem Tunçer et al

European Journal of Orthodontics, 2017, 586–594

doi:10.1093/ejo/cjx015

Os pesquisadores estudaram os efeitos da piezocirurgia sobre a taxa de redução do overjet utilizando mecânica de retração em massa com e sem piezocisão. Eles também observaram o efeito da intervenção em vários biomarcadores. Vou me concentrar apenas na taxa de movimentação dentária, pois acho que é o resultado clínico mais relevante.

O que eles fizeram?

Eles fizeram um estudo clínico randomizado de centro único, paralelo com alocação de 1:1.

A PICO foi:

Participantes: Pacientes com indicação de tratamento ortodôntico, com idades de 14 anos ou mais, que necessitassem de aparelho fixo superior e inferior com extração de quatro pré-molares

Intervenção: Piezocirurgia

Comparador: Tratamento convencional, sem piezocirurgia

Desfecho: Taxas de retração em massa do fechamento de espaço dos pré-molares. Os pesquisadores as mediram diretamente na boca utilizando um paquímetro digital com 15, 30, 60, 90 e 120 dias após a piezocirurgia. Esta medida não foi cegada.

Eles também analisaram os cefalogramas obtidos imediatamente antes da piezocirurgia, após 28 dias e ao final do fechamento dos espaços.

Eles fizeram a randomização utilizando envelopes selados. Os pacientes selecionaram os envelopes após terem concordado em participar do estudo. Os dados da cefalometria foram cegados, mas as medidas intra-orais do fechamento de espaço não.

Alguns leitores podem não estar familiarizados com a piezocirurgia. Ela compreende:

1          Dar uma anestesia local

2          Fazer incisões na mucosa vestibular

3          Fazer cortes no osso alveolar com 3mm de profundidade entre todos os dentes anteriores

4          Suturar tudo de volta

5          Recomendações para o controle da dor, aplicação de sacos de gelo por 24 horas

Para ser sincero, não sei bem se isso pode ser descrito como minimamente invasivo.

O que eles encontraram?

Após terem sido feitas as medidas das taxas de fechamento de espaço e analisadas as muitas variáveis dos cefalogramas, eles não encontraram diferença entre os grupos. Não encontraram nenhuma evidência de que a piezocisão influenciou a taxa de movimentação dentária.

O que eu pensei?

Eu achei que foi um estudo interessante. Infelizmente, existiu um problema importante com o cegamento da coleta de dados. Não ficou claro se a pessoa que mediu os espaços dos pré-molares foi cegada para a alocação do tratamento. Se o pesquisador estava ciente da alocação do tratamento, o estudo possui um alto risco de viés. Eu enviei um e-mail para o autor perguntando sobre isso e ele confirmou que o pesquisador estava ciente da alocação. Porém, ele também ressaltou que se tivessem obtido modelos de estudo em todos os momentos de coleta de dados, isso seria um desconforto a mais para os pacientes.

Eu pensei com cuidado sobre isso e quando observei a redução do overjet e a movimentação dos molares nos cefalogramas também não existia diferença. Sendo assim, achei que podemos concluir que não existiram diferenças cefalométricas no efeito das intervenções. Existiu uma ausência de evidência para o efeito da piezocirurgia.

Em resumo, meus principais pensamentos são que existem problemas com a metodologia. Além disso, a piezocisão não parece ser muito divertida para os nossos pacientes. Sendo assim, eu esperaria ver efeitos clinicamente significativos mais claros para esta intervenção. Não é o caso para este estudo.

Eu também revisei outros estudos sobre piezocisão e todos eles têm mostrado ausência de efeitos ou efeitos mínimos. Sendo assim, eu nem pensaria em fazer isso. Alguém faria?

Traduzido por Klaus Barretto Lopes

Instrutor de Ortodontia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil

Professor Visitante da Universidade de Manchester, Inglaterra, Reino Unido

 

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