Mais um prego no caixão da obsessão de não se extrair: um novo estudo
Mais um prego no caixão da obsessão de não se extrair: um novo estudo
As extrações influenciam na estética facial? Um estudo de longo prazo.
Em um dos meus posts anteriores eu discuti o efeito da extração/não-extração sobre o perfil facial. Entretanto, eu consegui perder esse artigo que foi publicado no ano passado. Eu acho que ele nos fornece informações úteis.
Como todos nós sabemos, o debate extração/não-extração continua intenso. Existem opiniões fortes de ambos os lados. Enquanto alguns são extremos beirando o alarmismo, outros são mais razoáveis e ressaltam que não são as extrações que causam dano ao perfil facial. É muito mais provável que o dano ao perfil seja consequência de uma mecânica de tratamento inadequada.
Este artigo foi publicado no EJO em 2015
Influence of premolar extractions on long-term adult facial aesthetics and apparent age
Guilherme Janson et al
Eur J Orthod (2016) 38 (3): 272-280 doi:10.1093/ejo/cjv039
O que eles fizeram?
Eles pegaram uma amostra de 63 pacientes tratados que tinham as seguintes características:
- Maloclusão de Classe II, divisão 1;
- Idade acima de 21 anos;
- Disponibilidade das documentações.
Eles dividiram os pacientes em três grupos:
- Tratamento sem extrações;
- Extrações de dois pré-molares superiores;
- Extrações de quatro pré-molares.
Eles tinham tratado os pacientes com aparelhos fixos (Edgewise) utilizando uma mecânica convencional.
É interessante que eles utilizaram aparelhos extra-orais para reforçar a ancoragem no grupo sem extração e no grupo com extrações de quatro pré-molares. Eles usaram elásticos de chbolasse II quando necessário.
Eles obtiveram os seguintes dados:
- Resultados oclusais do pós-tratamento com o sistema HBO;
- Dados cefalométricos (uma grande quantidade);
- Radiografias extra-orais laterais e frontais do pós-tratamento.
Eles padronizaram as imagens e as mostraram para um painel de avaliadores. Esse grupo utilizou uma escala de 10 pontos para avaliar a atratividade facial e a percepção da idade aparente dos pacientes. Setenta e seis ortodontistas e 83 pessoas leigas participaram do painel de avaliadores.
Eles conduziram uma estatística apropriada e um cálculo de tamanho de amostra.
O que eles acharam?
Eles apresentaram uma grande quantidade de dados. Eu certamente não avaliei com rigor o festival de testes multivariados múltiplos feitos com os dados cefalométricos!
Eu achei que o achado mais importante e relevante foi que não existiram diferenças clinicamente significantes em nenhuma das medidas morfológicas entre os grupos no pós-tratamento.
É importante ressaltar que não existiram diferenças quando eles analizaram a estética facial e a idade aparente 8 anos após o tratamento.
O que eu penso?
Eu começarei o meu resumo considerando os fatores que podem levar a vieses nesse estudo, que eu acho que são:
- Foi um estudo retrospectivo baseado na disponibilidade da documentação. Consequentemente, ele pode ter viés de seleção;
- Eles não alocaram de forma randomizada a decisão de tratamento. Isso poderia levar ao viés do operador;
- Os avaliadores fizeram os seus julgamentos a partir de fotografias. Isso não representa, necessariamente, a interação social da vida real.
Pensando sobre os efeitos desses fatores, eu acho que o mais importante é o viés de seleção pela coleta de dados ser retrospectiva. Isso significa que nós devemos presumir que eles podem ter coletado as documentações dos melhores tratamentos. Consequentemente, esses dados só devem ser relevantes para tratamentos de alta qualidade. Nós só podemos concluir que eles não acharam diferenças entre os tratamentos sem e com extrações quando um tratamento de alta qualidade foi realizado. Eu também posso interpretar isso afirmando que não é a decisão de extrair que causa o prejuízo facial e sim a escolha da mecânica. Eu não posso deixar de pensar que o tratamento com extrações não é feito por muitos ortodontistas pelo aumento do uso de aparelhos funcionais e pelos melhores métodos de reforço de ancoragem.
Apesar disso, se nós considerarmos que não é possível randomizar a decisão de extrair ou não extrair, então os métodos utilizados por eles, provavelmente, são os melhores possíveis.
Pensando sobre a conclusão, nós precisamos nos lembrar que a “ausência de evidência” não significa “evidência da ausência”. Simplesmente significa que eles não encontraram evidências de prejuízo da face nos tratamentos com extração.
Minha conclusão
Quando eu coloco toda essa informação junta, não posso deixar de sentir que esse artigo reforça a informação de outros estudos que eu postei anteriormente.
Minha conclusão geral baseada na literatura e nesse artigo é :
“Nós não encontramos nenhuma evidência de que a extração dentária indicada para o tratamento ortodôntico cause algum prejuízo para a estética facial de nossos pacientes”.
Eu acho que eu vou continuar amputando partes do corpo (dentes) dos pacientes nos quais eu sentir que extrações dentárias são necessárias.
Finalmente, eu me pergunto se não estaria quase na hora de pararmos de discutir extrações de origem ortodôntica.
Traduzido por Klaus Barretto Lopes
Professor Visitante da Universidade de Manchester, Inglaterra, Reino Unido
Instrutor de Ortodontia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil
Emeritus Professor of Orthodontics, University of Manchester, UK.