A microperfuração óssea acelera a movimentação dentária, é o que diz este novo estudo clínico!
Todos gostaríamos de acelerar a taxa de movimentação dentária. Este novo estudo clínico mostra que a microperfuração óssea (MPO) acelera a movimentação dentária.
Recentemente, alguns investigadores têm conduzido vários estudos clínicos para avaliar métodos com o objetivo de acelerar a movimentação dentária. Um dos métodos é a microperfuração óssea ou MPOs. Nesta técnica, pequenos buracos são feitos no osso alveolar, que vão resultar no fenômeno de aceleração regional ou FAR. Postei sobre estudos clínicos que observaram isso antes. Ressaltei que existe uma evidência limitada de um efeito clinicamente significante na taxa de movimentação dentária. Essa é uma área interessante e clinicamente relevante da pesquisa ortodôntica. Assim, fiquei muito interessado neste novo estudo clínico.
Um grupo da Índia fez este estudo. O Journal of Orthodontics o publicou.
Sonal Attri et al
Journal of Orthodontics: https://doi.org/10.1080/14653125.2018.1528746
Eles se propuseram a fazer a seguinte pergunta:
“A MPO influencia na taxa de movimentação dentária e na dor quando usada para a retração em massa?”
O que eles fizeram?
Eles fizeram um estudo clínico randomizado, paralelo, com dois braços e taxa de alocação de 1:1. Eles registraram o estudo clínico.
A PICO foi:
Participantes:Pacientes ortodônticos, com idade entre 13 e 20 anos, com índice de irregularidade <3mm, indicação de extração dos primeiros pré-molares superiores e inferiores e necessidade de retração em massa para o fechamento de espaço;
Intervenção:MPO com o dispositivo Propel. Eles fizeram isso ao início do fechamento de espaço e a cada 28 dias até que os espaços de extração fossem fechados.
Controle:Fechamento de espaço sem MPO.
Desfecho:Taxa de fechamento de espaço em mm/mês, medida em modelos digitais. Eles avaliaram a percepção de dor com uma escala visual analógica 24 horas após a MPO, sete dias e 28 dias após a MPO.
Achei que outras áreas importantes da metodologia deles foram:
Eles fecharam o espaço com um fio .019x.025 utilizando uma força padronizada de 150g de cada lado do arco.
Eles começaram a retração imediatamente após a MPO.
A preparação da ancoragem foi feita bandando-se os segundos molares e instalando-se um arco palatino.
Eles mediram o fechamento de espaço desenhando-se uma linha na sutura palatina mediana usando um software. Então, eles desenharam linhas perpendiculares desta linha até a superfície distal do canino e até a superfície mesial do segundo pré-molar. A distância entre estas linhas era a quantidade de fechamento de espaço.
Eles fizeram um cálculo de tamanho de amostra claro, a coleta de dados foi cegada, a randomização e o cegamento foram bons.
O que eles encontraram?
Sessenta participantes entraram e completaram o estudo. Não existiram diferenças entre os grupos tratados ao início do tratamento.
Extraí os dados relevantes sobre a taxa se fechamento de espaço em mm/28 dias na tabela a seguir:
Espaço | MPO | Sem MPO | Diferença (IC 95%) |
Superior direito | 0,89 (0,17) | 0,63 (0,11) | 0,25 (0,18-0,33) |
Superior esquerdo | 0,88 (0,21) | 0,53 (0,19) | 0,35 (0,25-0,45) |
Inferior direito | 0,8 (0,19) | 0,53 (0,1) | 0,27 (0,19-0,35) |
Inferior esquerdo | 0,73 (0,1) | 0,49 (0,1) | 0,24 (0,17-0,31) |
Todas as diferenças foram estatisticamente significantes. Eles não detectaram nenhuma diferença na percepção de dor.
A conclusão geral deles foi:
“Existe um aprimoramento definido da movimentação dentária ortodôntica quando a MPO é feita antes do início da movimentação dentária”.
O que eu pensei?
Achei que foi um estudo pequeno e bem-feito. Também achei que os resultados deles foram interessantes. Porém, precisamos considerar se o tamanho do efeito foi clinicamente significativo. Cabe a você decidir isso.
Achei que uma boa forma de analisar os dados deles seria observar o efeito que as diferenças podem ter sobre o tempo geral de fechamento de espaço. Por exemplo, se avaliarmos a maior diferença, que foi no fechamento de espaço no primeiro pré-molar superior direito, eles relataram que a média do espaço pré-tratamento na maxila era de 5,0mm. Se utilizarmos o fechamento de espaço médio de 0,89 mm/mês com MPO e 0,63 mm/mês sem MPO, então o tempo médio de fechamento de espaço seria de 5,6 meses com MPO e 7,9 meses sem MPO. Assim, acho que tais diferenças são clinicamente significantes.
Porém, peço um pouco de cautela. Precisamos nos lembrar que eles apenas observaram o fechamento de espaço. Não sei bem se podemos extrapolar este achado para sugerir que podemos reduzir em dois meses a duração do tratamento. Dessa forma, mesmo que os resultados sejam interessantes, ainda precisamos ver um estudo que tenha avaliado os efeitos das MPOs ao longo de todo o tratamento ortodôntico. É claro que isso trará uma considerável sobrecarga de cuidados e deveríamos nos perguntar se estamos procurando por uma diferença considerável para justificar isso.
Traduzido por Klaus Barretto Lopes
Professor Substituto de Ortodontia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil
Emeritus Professor of Orthodontics, University of Manchester, UK.