August 20, 2018

A saúde periodontal é melhor com os alinhadores do que com os aparelhos fixos?

Sabemos que a saúde periodontal é influenciada pelos aparelhos fixos. Mas ela é melhor com os alinhadores?

Pelo fato dos alinhadores poderem ser removidos, parece lógico presumir que a higiene oral do nosso paciente deveria ser mais fácil de ser obtida com os alinhadores do que com os aparelhos fixos. Consequentemente, a saúde periodontal deveria ser melhor com os alinhadores do que com os aparelhos fixos. Porém, as pesquisas têm mostrado que este potencial benefício nem sempre está presente. Essa nova revisão sistemática é, portanto, oportuna e relevante para a prática clínica.

Um grupo da China fez esta revisão. A revista da Associação Americana de Odontologia a publicou.

Periodontal health during orthodontic treatment with clear aligners and fixed appliances

Qian Jiang, et al

JADA 2018:149(8):712-720

https://doi.org/10.1016/j.adaj.2018.04.010

Para muita gente não é possível ler este artigo porque é necessária a assinatura da revista, que não tem acesso aberto.

Eles fizeram o estudo para comparar a saúde periodontal em pacientes em tratamento com alinhadores transparentes ou aparelhos fixos.

O que eles fizeram?

Eles fizeram uma revisão sistemática padrão e seguiram todos os passos para este tipo de pesquisa. A PICO foi:

Participantes:Pacientes em tratamento ortodôntico;

Intervenção:Alinhadores transparentes;

Controle:Aparelhos fixos;

Desfecho: Saúde periodontal.

Eles incluíram RCTs e estudos cohort.

Eles fizeram uma pesquisa eletrônica padrão. Dois autores independentes avaliaram os artigos e extraíram os dados.

Eles avaliaram os vieses com a ferramenta Cochrane de risco de vieses para os RCTs e usaram a ferramenta Newcastle-Ottawa para os estudos cohort. Finalmente, eles aplicaram o sistema GRADE para avaliar a qualidade geral da evidência.

O que eles encontraram?

Eles identificaram nove estudos para incluir na revisão (dois RCTs e sete estudos cohort). No total, foram incluídos os dados de 421 pacientes, dos quais 190 utilizaram alinhadores transparentes e 237 utilizaram aparelhos fixos. Os pesquisadores utilizaram o índice de placa (IP) em oito estudos, seis estudos relataram o índice gengival (IG) e sete estudos relataram a profundidade de sondagem (PS).

Quando avaliaram o risco de viés, os RCTs foram de média qualidade, um estudo cohort foi de alta qualidade e os demais estudos foram considerados de média qualidade. A causa mais comum de viés foi a ausência de cegamento.

Eu decidi avaliar mais atentamente os estudos cohort, pois não estava claro se eles foram prospectivos ou retrospectivos. Isto é importante por conta do viés inerente aos estudos retrospectivos, que acabam influenciando a qualidade geral dos achados da revisão.

Eu fiquei surpreso ao encontrar que três dos estudos cohort não pareceram avaliar os efeitos dos alinhadores. Eles estudaram aparelhos removíveise funcionais.  Porém, eu só consegui ter acesso a dois dos resumos. Aqui está o link para o artigo completo do terceiro dos estudos. Isto foi surpreendente e achei que os avaliadores da JADA deveriam ter identificado este problema.

Portanto, me pergunto se o estudo cohort é falho. Assim, considerei apenas os dados derivados dos dois RCTs. Eles mostraram que o uso dos alinhadores resultou numa diferença de índice de placa de -1,79 (95% IC= -2,13 a 1,45). Estes dados foram derivados de apenas 30 pacientes em cada grupo. Este pequeno tamanho de amostra e amplo intervalo de confiança significa que existe um alto nível de incerteza nos dados.

O que eu achei?

Quando comecei a ler este artigo pela primeira vez, achei que ele tinha potencial. Porém, fiquei desapontado ao perceber que os autores pareceram incluir os dados de aparelhos removíveis e funcionais. Não ficou claro para mim por que fizeram isso. Eu conferi isso várias vezes. Eu também tentei enviar um e-mail para o autor do estudo e os e-mails retornaram.

Assim, eu tive que excluir uma grande quantidade de dados da revisão. Isso significa que a conclusão geral não é suportada pelos dados. Eu posso apenas concluir que não sabemos se os alinhadores removíveis resultam em melhor higiene oral do que os aparelhos fixos.

Isso também me lembra que não devemos simplesmente aceitar os achados das revisões sistemáticas. É necessário avaliar os dados básicos e os artigos incluídos.

Traduzido por Klaus Barretto Lopes

Instrutor de Ortodontia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil

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