November 01, 2016

Líderes formadores de opinião em Ortodontia: Quem são eles e o que fazem?

Líderes formadores de opinião em Ortodontia: Quem são eles e o que fazem?

Eu acabei de reler o excelente livro “Bad Pharma” escrito pelo médico Inglês Ben Goldacre. O livro fala sobre as práticas da indústria farmacêutica no desenvolvimento e na produção de seus produtos. Ele escreveu sobre líderes formadores de opinião e eu fiquei pensando se existiam alguns na ortodontia e o que eles faziam.

O líder formador de opinião é um médico ou dentista que é empregado para influenciar a prática clínica de seus pares. As companhias os contratam para introduzirem novos produtos no mercado, conduzir estudos e dar aulas e seminários sobre o produto ao qual eles estão associados. Essa prática é muito utilizada na medicina e na indústria farmacêutica. Eu entrei em contato com isso na ortodontia recentemente. Por exemplo, esse é um artigo escrito por Dr. Boschken. Ele é um líder formador de opinião para a Propel Orthodontics (outro tipo de aparelho de vibração na ortodontia). Essencialmente, esse é um documento de propaganda ilustrando uma série de casos que foram “acelerados” com o Propel. Ele não menciona a pesquisa contemporânea que mostra que os aparelhos de vibração não têm efeito. Ele é escrito, simplesmente, para promover o produto utilizando a opinião de um clínico. Importante ressaltar que o Dr. Boschken declara que ele é um líder formador de opinião para a Propel.

Isso me fez pensar se existem muitos líderes formadores de opinião trabalhando para companhias de ortodontia. Então, eu fiz uma pequena busca na internet e encontrei essa informação sobre os líderes formadores de opinião para as seguintes indústrias (é só clicar nos links para ver a lista):

Invisalign

AcceleDent

Ormco

American Orthodontics

Essa é uma lista relativamente longa de porta-vozes de produtos ortodônticos e parece que isso está se tornando cada vez mais popular.

Como eles trabalham?

Os líderes formadores de opinião dão informações sobre desenvolvimentos, testam produtos e fazem apresentações sobre as suas impressões sobre o desempenho clínico dos produtos. Nem todos eles são remunerados.

Mesmo assim, existe um conflito e ele é muito sutil. Isso é preocupante no que diz respeito à forma pela qual a informação clínica será compartilhada ou disseminada. Isso se nós considerarmos que, num mundo ideal, a melhor forma de termos acesso à informação acurada sobre novos tratamentos é a referida na literatura. Infelizmente, no “mundo ideal” isso é difícil por conta do grande número de artigos que são publicados, pela dificuldade de acesso às revistas pagas e, talvez o mais importante, pela potencial falta de entendimento sobre os métodos científicos cada vez mais complexos. Como resultado, nós tendemos a ter informações de conferências, do boca-a-boca, de propagandas e de websites.

a-protest-marchA conferência e a feira de expositores

Quando nós consideramos as conferências, parece que duas avenidas disseminam informação. Uma é o programa científico e a outra é a feira de expositores. Nessa última é onde os líderes formadores de opinião tem um papel. Se eles estão no programa principal eles apresentam a informação como parte da sua apresentação. De forma similar, na feira de expositores eles fazem apresentações curtas e são encontrados nos estandes falando com os membros que se juntam como abelhas em volta de um pote de mel! Na periferia desses estandes eu tenho escutado frequentemente a frase: -Dr. ** está recomendando esse tratamento, então eu vou dar uma chance a ele. Algumas companhias até têm suas próprias conferências principais nas quais muitos dos seus líderes formadores de opinião falam para filas de membros extasiados aos pés de seus gurus.

Isso é um problema?

Nós precisamos considerar quando isso é um problema. Primeiro, nós precisamos nos lembrar que companhias empregam líderes formadores de opinião para influenciar a prática clínica. Em resumo, eles promovem produtos. Nós todos temos visto essa promoção com ausência de evidência científica. Paradoxalmente, nós não os vemos ou ouvimos mencionar a pesquisa científica que mostra que o tratamento/filosofia/método de acelerar o tratamento não funciona! Isso é sutil mas, na prática, a influência dos líderes formadores de opinião não é tão sutil.

Soluções?

Existe uma solução. Primeiro, organizadores de conferências devem insistir que todos os apresentadores declarem se eles são líderes formadores de opinião no início de suas apresentações. Eu sei que David Turpin propôs isso há algum tempo, mas eu não estou vendo isso acontencer ainda.

Segundo, os líderes formadores de opinião devem estar cientes que têm uma responsabilidade ética com os clínicos e os pacientes. A esse respeito, eles precisam ser esclarecidos sobre o nível de evidência que estão utilizando quando promovem um novo tratamento. Além do mais, quando pesquisas forem publicadas não suportando as suposições que eles estão promovendo, eles deveriam se convencer e declarar que eles estavam “errados”. Nos últimos cinco anos aconteceram algumas situações desse tipo em pesquisas e eu não me lembro de ter visto pelo menos um líder formador de opinião fazer isso.

Finalmente, como cientístas clínicos nós precisamos ouvir líderes formadores de opinião?

Declaração: A Universidade de Manchester e o Serviço de Saúde Nacional do Reino Unido me empregam e pagam o meu salário. Eu também faço apresentações sobre pesquisa e metodologia de pesquisa para os quais eu recebo pagamentos pelas despesas de viagem, acomodação e adesão aos congressos. Eu não recebo nenhuma renda desse blog e utilizo as verbas das aulas para financiar os custos.

Traduzido por Klaus Barretto Lopes
Professor Visitante da Universidade de Manchester, Inglaterra, Reino Unido
Instrutor de Ortodontia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil

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