October 25, 2016

Chupetas ortodônticas funcionam? Alguém fez um estudo!

Chupetas ortodônticas funcionam? Alguém fez um estudo!

Quando meus filhos eram bebês, nós demos chupetas para eles enquanto tentávamos colocá-los para dormir à noite! Nós retiramos a chupeta com mais ou menos 1 ano de uso, de forma que não causou nenhum mal. Desde então, muitas mães preocupadas têm me perguntado se eu achava que chupetas “ortodônticas” causariam menos mal que chupetas convencionais. Eu sempre disse a elas que eu não sabia. Mas agora nós temos um estudo que deve responder a essa questão…

Um grupo de Jena, na Alemanha fez esse estudo e que foi publicado no excelente Orthodontics and Craniofacial Research.

jenaEffect of a thin-neck pacifier on primary dentition: a randomized controlled trial

Y Wagner and R Heinrich-Weltzien

Orthod Craniofac Res 2016; 19: 127–136.

DOI: 10.1111/ocr.12126

O uso da chupeta ou a sucção não-nutritiva é comum entre crianças e varia entre 60 e 80%. Num mundo ideal as crianças deveriam parar com a sucção não-nutritiva entre 24 e 36 meses de idade, de forma que os riscos de se desenvolver a má-oclusão poderiam ser reduzidos.

Os pais dão diferentes tipos de chupetas para seus filhos. Uma dessas é chamada chupeta ortodôntica e eles têm um pescoço mais fino que os modelos convencionais. Também é chamada de chupeta com pescoço fino.

O propósito desse estudo foi avaliar os efeitos deste tipo de chupeta e das chupetas convencionais na dentição.

O que eles fizeram?

Eles conduziram um estudo clínico randomizado paralelo prospectivo. Eles envolveram 86 crianças no estudo oriundas de um grande grupo de pacientes que faziam parte da clínica deles. Os critérios de inclusão foram:

  • Idades entre 16 e 24 meses;
  • Diagnosticados com Mordida aberta anterior ou sobressaliência aumentada associadas à chupeta;
  • Ainda usando chupeta.

Eles randomizaram as crianças para um dos três grupos:

  1. Chupetas de pescoço fino (n=28);
  2. Controle, eles continuaram a usar sua chupeta convencional (n=30);
  3. Chupeta a ser removida durante o período de estudo (n=28).

A ocultação da alocação e a randomização foram boas. Eles fizeram o cálculo do tamanho da amostra..

Eu achei que seria importante ressaltar que se qualquer criança (grupo 3) não fosse bem-sucedida na remoção da chupeta, seria excluída da análise dos dados.

Dois dentistas mediram a sobressaliência, a sobremordida e a mordida aberta. Eu identifiquei que somente um dos dois estava cegado para a alocação do tratamento. Eles coletaram os dados no início do estudo e em seguida após 3, 6, 9 e 12 meses.

O que eles encontraram?

Eles perderam 12 participantes ao longo do estudo porque eles se mudaram. Em seguida eles excluíram mais 11 por conta de traumatismo dentário, respiração bucal (5) e por não terem removido a chupeta (6).

Não existia diferença entre os grupos no início do estudo. Eles agruparam os dados e os apresentaram em diferentes períodos e isso foi muito confuso. Eu achei que os dados mais simples e mais relevantes foram as medidas dentárias ao final do período do estudo. Eu coloquei essa informação na seguinte tabela:

  Chupeta de pescoço fino Chupeta convencional chupeta Retirada P
Sobremordida (mm) 0.2 (1.2) -0.8 (1.8) 0.5 (0.3) 0.002
Sobressaliência (mm) 2.7 (0.5) 3.2 (0.7) 2.4 (0.7) 0.031

 

A análise dos dados mostrou que existiu diferença estatisticamente significativa entre aqueles que usaram a chupeta e aqueles que retiraram a chupeta no que diz respeito à sobremordida e à sobressaliência. Não existiu diferença entre as chupetas. Eles conduziram várias comparações entre os dados que avaliaram as mudanças nas medidas, proporção de pacientes nos grupos e quando pararam de usar a chupeta. Eles encontraram algumas diferenças. Entretanto, eu fui cuidadoso em aceitar essas informações, pois eles fizeram testes múltiplos. Se você testar um conjunto de dados muitas vezes você vai acabar encontrando diferença estatística significativa em algum lugar…

Eles concluíram que a mudança para uma chupeta de pescoço fino reduziria a má-oclusão induzida pela chupeta na dentição decídua. Eles disseram que isso seria um achado notável.

O que eu penso?

Num primeiro momento, eu achei que esse seria um bom estudo. Entretanto, quando eu o olhei de mais perto eu encontrei os seguintes problemas:

Em primeiro lugar, eles não usaram um desenho de estudo que levasse em consideração a intenção de tratar. Eles excluíram os dados dos pacientes que não pararam de usar a chupeta. Como resultado, eles incluíram somente os pacientes cujo tratamento (retirada da chupeta) foi bem-sucedido. Se nós considerarmos que a intervenção foi uma solicitação e uma instrução de parar de usar a chupeta, então excluir os pacientes por não parar não testou a intervenção.

Em segundo lugar, eles conduziram testes de comparações múltiplas e isso aumentou a chance de encontrarem diferença estatística significante que realmente não estava lá. Quando eu olhei para as simples diferenças nas medidas dentárias ao final do estudo, isso mostrou que não existia diferença entre as chupetas.

Finalmente, eles detectaram efeitos de tamanho que não foram clinicamente significantes. Por exemplo, existiu uma redução na sobressaliência de somente 0,3 mm quando as chupetas foram removidas.

O mais importante, eles restringiram o estudo somente a dentição decídua. Eu acho que eu realmente preciso de informação sobre os diferentes tipos de chupetas sobre a dentição permanente antes de poder fazer alguma recomendação do seu uso.

Infelizmente, essa questões são um tanto quanto importantes e eu sinto que ainda não sabemos se chupetas ortodônticas causam menos mal que chupetas convencionais.

Traduzido por Klaus Barretto Lopes
Professor Visitante da Universidade de Manchester, Inglaterra, Reino Unido
Instrutor de Ortodontia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil

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