Quando devemos fazer uma tomografia computadorizada de feixe cônico? Cuidado com a radiação, Eugene Parte 3
Não existe dúvida de que a Tomografia Computadorizada de Feixe Cônico (TCFC) tem revolucionado a Ortodontia. Mas quando deveríamos fazer uma TCFC?
Acho que a TCFC é ótima. Ela, certamente, nos habilita a enxergar coisas que não conseguimos em radiografias convencionais. Porém, precisamos avaliar se a exposição à radiação adicional é justificável. Já postei sobre isso diversas vezes, o que gerou muita discussão. Portanto, torna-se relevante dar uma olhada neste artigo atualizado do European Journal of Orthodontics (EJO).
Annelore De Grauwe et al
EJO: on line: doi:10.1093/ejo/cjy066
O EJO liberou o acesso, o que significa que você pode acessá-lo sem ser um membro da European Orthodontic Society (EOS). Isto é uma grande notícia!
O artigo é iniciado com uma bela revisão da literatura. Em seguida, é ressaltado que a dose de uma TCFC continua sendo mais alta que a de radiografias 2D. Também foi enfatizado que existem três princípios fundamentais de proteção da radiação: justificativa, otimização e limitação da dose. Finalmente, foi mencionado que as diretrizes da SEDENTEXCT afirmam que não é possível fazer a diferenciação entre a exposição segura e a danosa, devido aos efeitos determinados aleatoriamente. Assim, precisamos ter cuidado.
O que foi perguntado?
Os autores queriam encontrar informações sobre a eficácia do diagnóstico da TCFC, antes do tratamento ortodôntico, quando realizada em crianças.
O que foi feito?
Os autores fizeram uma revisão sistemática, com a seguinte PICO:
Participantes:Pacientes de Pediatria
Intervenção:TCFC
Control:Radiografias 2D
Resultado:Mudanças no tratamento causadas pela avaliação das imagens da TCFC.
Foram buscados artigos que descreviam diagnóstico, terapêutica e eficiência, quando comparavam a TCFC com as imagens convencionais.
Dois avaliadores independentes conduziram a busca dos artigos, fizeram a extração dos dados e identificaram os artigos. Finalmente, foram avaliados os riscos de viés e a qualidade dos artigos.
O que foi encontrado?
Após uma busca extensa e realizadas as exclusões planejadas, foi obtida uma amostra final de 37 artigos. A qualidade dos estudos foi avaliada com uma ferramenta de Avaliação da Qualidade dos Estudos Diagnosticados (AQED). Você pode se informar melhor aqui.
Uma narrativa dos achados principais foi apresentada e dividida em várias seções. Achei que os mais relevantes foram:
Reabsorção radicular
A TCFC mostrou melhores taxas de detecção que as imagens 2D. Por exemplo, foram detectadas 63% mais reabsorções radiculares com a TCFC do que com as imagens 2D.
Trauma
Foram achados apenas 3 artigos nesta área, que mostraram que a TCFC foi melhor que as imagens 2D na detecção de fraturas radiculares.
Fissura de lábio e palato e outros problemas craniofaciais
A TCFC foi claramente superior do que as imagens 2D para se obter o volume da fissura, a morfologia da raíz, o resultado do enxerto ósseo e as imagens de problemas complexos.
Os principais achados foram resumidos, onde a TCFC tinha vantagens sobre as imagens 2D ao:
- Diagnosticar as reabsorções radiculares
- Avaliar as fraturas radiculares
- Avaliar problemas craniofaciais complexos
O que achei?
Essa é uma área importante para a nossa clínica, pois podemos causar danos nas crianças devido a sobre exposição desnecessária à radiação. Achei importante que os achados tenham sido relacionados ao SEDENTEX e ao DIMITRA position statement.
Ambos documentos, claramente, declaram que a TCFC não seria recomendada para a detecção de cistos, lesões periapicais, avaliação periodontal e doença periodontal.
De fato, o SEDENTEX é muito específico. Eles podiam não recomendar a TCFC como o método padrão de diagnóstico e planejamento de tratamento na clínica ortodôntica. Finalmente, a SEDENTEX estabelece o seguinte:
“Quando os profissionais de saúde mudarem a sua conduta ao adotar uma técnica diagnóstica na qual existem riscos de radiação para grupos de pacientes jovens, o ônus de demonstrar melhoras significativas nos resultados dos pacientes é dos profissionais”.
Achei que tal declaração foi muito relevante ao observar os dados suplementares das doses de radiação dos estudos que foram incluídos no artigo (Tabela 2), que mostrou que a dose da TCFC variou de 26 uSV a 194 uSV, ao passo que a dose da panorâmica é de 5 uSV. Essa comparação das dosagens parece muito alta para mim!
Resumo
De duas uma, ou esse é um campo complexo da nossa área ou apenas é confuso para mim. Parece que existem algumas indicações claras para o uso da TCFC, que foram ressaltadas no artigo e nos documentos da SEDENTEX e DIMITRA. Importante ressaltar que eles não sugeriram que a TCFC deva ser usada rotineiramente numa população de pacientes ortodônticos. Certamente, está claro que a TCFC não é necessária para a maioria dos nossos pacientes, quando consideramos o possível risco e o potencial dano que podemos causar.
Traduzido por Klaus Barretto Lopes
Professor Substituto de Ortodontia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil
Emeritus Professor of Orthodontics, University of Manchester, UK.