November 25, 2018

Quando devemos fazer uma tomografia computadorizada de feixe cônico? Cuidado com a radiação, Eugene Parte 3

 

Não existe dúvida de que a Tomografia Computadorizada de Feixe Cônico (TCFC) tem revolucionado a Ortodontia. Mas quando deveríamos fazer uma TCFC?

Acho que a TCFC é ótima. Ela, certamente, nos habilita a enxergar coisas que não conseguimos em radiografias convencionais. Porém, precisamos avaliar se a exposição à radiação adicional é justificável. Já postei sobre isso diversas vezes, o que gerou muita discussão. Portanto, torna-se relevante dar uma olhada neste artigo atualizado do European Journal of Orthodontics (EJO).

CBCT in orthodontics: a systematic review on justification of CBCT in a paediatric population prior to orthodontic treatment

Annelore De Grauwe et al

EJO: on line:  doi:10.1093/ejo/cjy066

O EJO liberou o acesso, o que significa que você pode acessá-lo sem ser um membro da European Orthodontic Society (EOS). Isto é uma grande notícia!

O artigo é iniciado com uma bela revisão da literatura. Em seguida, é ressaltado que a dose de uma TCFC continua sendo mais alta que a de radiografias 2D. Também foi enfatizado que existem três princípios fundamentais de proteção da radiação: justificativa, otimização e limitação da dose. Finalmente, foi mencionado que as diretrizes da SEDENTEXCT afirmam que não é possível fazer a diferenciação entre a exposição segura e a danosa, devido aos efeitos determinados aleatoriamente. Assim, precisamos ter cuidado.

O que foi perguntado?

Os autores queriam encontrar informações sobre a eficácia do diagnóstico da TCFC, antes do tratamento ortodôntico, quando realizada em crianças.

O que foi feito?

Os autores fizeram uma revisão sistemática, com a seguinte PICO:

Participantes:Pacientes de Pediatria

Intervenção:TCFC

Control:Radiografias 2D

Resultado:Mudanças no tratamento causadas pela avaliação das imagens da TCFC.

Foram buscados artigos que descreviam diagnóstico, terapêutica e eficiência, quando comparavam a TCFC com as imagens convencionais.

Dois avaliadores independentes conduziram a busca dos artigos, fizeram a extração dos dados e identificaram os artigos. Finalmente, foram avaliados os riscos de viés e a qualidade dos artigos.

O que foi encontrado?

Após uma busca extensa e realizadas as exclusões planejadas, foi obtida uma amostra final de 37 artigos. A qualidade dos estudos foi avaliada com uma ferramenta de Avaliação da Qualidade dos Estudos Diagnosticados (AQED). Você pode se informar melhor aqui.

Uma narrativa dos achados principais foi apresentada e dividida em várias seções. Achei que os mais relevantes foram:

Reabsorção radicular

A TCFC mostrou melhores taxas de detecção que as imagens 2D. Por exemplo, foram detectadas 63% mais reabsorções radiculares com a TCFC do que com as imagens 2D.

Trauma

Foram achados apenas 3 artigos nesta área, que mostraram que a TCFC foi melhor que as imagens 2D na detecção de fraturas radiculares.

Fissura de lábio e palato e outros problemas craniofaciais

A TCFC foi claramente superior do que as imagens 2D para se obter o volume da fissura, a morfologia da raíz, o resultado do enxerto ósseo e as imagens de problemas complexos.

Os principais achados foram resumidos, onde a TCFC tinha vantagens sobre as imagens 2D ao:

  • Diagnosticar as reabsorções radiculares
  • Avaliar as fraturas radiculares
  • Avaliar problemas craniofaciais complexos

O que achei?

Essa é uma área importante para a nossa clínica, pois podemos causar danos nas crianças devido a sobre exposição desnecessária à radiação. Achei importante que os achados tenham sido relacionados ao SEDENTEX e ao DIMITRA position statement.

Ambos documentos, claramente, declaram que a TCFC não seria recomendada para a detecção de cistos, lesões periapicais, avaliação periodontal e doença periodontal.

De fato, o SEDENTEX é muito específico. Eles podiam não recomendar a TCFC como o método padrão de diagnóstico e planejamento de tratamento na clínica ortodôntica. Finalmente, a SEDENTEX estabelece o seguinte:

“Quando os profissionais de saúde mudarem a sua conduta ao adotar uma técnica diagnóstica na qual existem riscos de radiação para grupos de pacientes jovens, o ônus de demonstrar melhoras significativas nos resultados dos pacientes é dos profissionais”.

Achei que tal declaração foi muito relevante ao observar os dados suplementares das doses de radiação dos estudos que foram incluídos no artigo (Tabela 2), que mostrou que a dose da TCFC variou de 26 uSV a 194 uSV, ao passo que a dose da panorâmica é de 5 uSV. Essa comparação das dosagens parece muito alta para mim!

Resumo

De duas uma, ou esse é um campo complexo da nossa área ou apenas é confuso para mim. Parece que existem algumas indicações claras para o uso da TCFC, que foram ressaltadas no artigo e nos documentos da SEDENTEX e DIMITRA. Importante ressaltar que eles não sugeriram que a TCFC deva ser usada rotineiramente numa população de pacientes ortodônticos. Certamente, está claro que a TCFC não é necessária para a maioria dos nossos pacientes, quando consideramos o possível risco e o potencial dano que podemos causar.

Traduzido por Klaus Barretto Lopes

Professor Substituto de Ortodontia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil

 

 

 

 

 

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