October 31, 2017

A expansão rápida da maxila com ancoragem esquelética aumenta o fluxo de ar nasal: Um bom estudo randomizado!

Já tem um tempo que eu postei sobre um estudo randomizado. Esse novo estudo observou os efeitos de aparelhos de expansão rápida da maxila (ERM) com ancoragem esquelética. Eu o achei ótimo.

Os aparelhos originais de ERM eram ancorados em dentes e isso resultou em forças sendo aplicadas à maxila através dos dentes. Recente tem sido a utilizado mini implantes no palato para ancorar os aparelhos de ERM, sendo a força aplicada diretamente aos ossos maxilares. Na teoria, isso reduz os efeitos de inclinação dentária e do osso alveolar. Isso significa que esses novos aparelhos podem ter um maior efeito esquelético e atingir maior mudança no fluxo das vias aéreas do que os aparelhos de ERM ancorados em dentes.

Um grupo de Orebro, na Suíça e de Hamburgo, na Alemanha, fez esse estudo. O European Journal of Orthodontics (EJO) o publicou:

Effects on nasal airflow and resistance using two different RME appliances: a randomized controlled trial

Farhan Bazargani , Anders Magnuson and Björn Ludwig

European Journal of Orthodontics, 2017, 1–4 doi:10.1093/ejo/cjx081

 

Infelizmente, o artigo faz parte de uma revista paga (EJO) e somente os membros da European Orthodontic Society (EOS) podem ter acesso a ela. Eu me pergunto se eles poderiam torná-la de acesso livre.

O que eles perguntaram?

Eles fizeram um estudo simples para fazer uma pergunta simples:

 “O uso de aparelhos de ERM ancorados em dentes (TB) ou ancorados em dentes e osso (TBB) influencia no fluxo das vias aéreas e na resistência nasal em crianças em crescimento com maxila atrésica?”

O que eles fizeram?

Eles fizeram um estudo clínico randomizado. A PICO foi:

Participantes:             40 crianças com idades entre 8 e 13 anos com mordida cruzada uni ou bilateral com atresia maxilar;

Intervenção: Aparelho de ERM ancorado em dentes (TB);

Comparação:             Aparelho de ERM ancorado em dentes e osso (TBB);

Desfecho:       Fluxo de ar nasal e resistência nasal medidos utilizando-se rinomanometria. Eles também mediram os movimentos dentários.

Eu achei ótimo que eles não mergulharam num festival de medidas cefalométricas e de volume de fluxo das vias aéreas com testes múltiplos na busca interminável por significância. Ao invés disso, eles simplesmente mediram os efeitos do tratamento no fluxo aéreo nasal etc. Essa é uma boa medida de desfecho, pois é o que conta e é relevante para os pacientes.

 

Eu achei que a randomização e a ocultação da alocação foram boas. Eles obtiveram todos os dados de forma cega incluindo os dados do fluxo das vias aéreas. A análise estatística foi apropriada.

O que eles encontraram?

Eles completaram o estudo e recrutaram 40 participantes. Infelizmente, 4 dos TB e 6 dos TBB não completaram o estudo. Isso resultou num número desigual de abandonos nos dois grupos, significando que existe algum viés no estudo. Os autores mostraram estar cientes disso em algum grau ao imputarem dados para os abandonos.

Os achados deles foram interessantes e clinicamente relevantes. Em suma, eles acharam que não existiu diferença entre os grupos ao início do tratamento. Após a expansão, existiu um fluxo de ar maior no grupo TBB com uma diferença média de 51,0 cm3/s (95% IC 9.6-92.5). De forma parecida, existiu uma redução maior na resistência aérea nasal para o grupo TBB com uma diferença média de -0,21 Pa s/sm3.

Resumidamente, eles não encontraram diferenças nos movimentos dentários. Porém, a ERM TBB resultou num significante aumento do fluxo aéreo nasal e diminuiu a resistência nasal.

Eles ressaltaram que a quantidade de diminuição na resistência nasal foi equivalente ao efeito descongestionante de um spray nasal. Consequentemente, isso é clinicamente relevante.

Finalmente, na discussão, eles sentiram que o TBB foi mais efetivo devido às forças terem sido liberadas diretamente na maxila e não através dos dentes.

O que eu pensei?

Eu achei esse estudo interessante e clinicamente relevante. Os autores o conduziram bem e o relataram com muita clareza. Eles também trataram bem o problema dos “abandonos” utilizando métodos aceitáveis. Também foi bom ver que eles abordaram a significância clínica e a estatística.

Esse estudo acrescenta aos dados sobre a efetividade da ERM sobre o fluxo aéreo nasal. Realmente parece existir uma efetividade clínica no uso da ERM com ancoragem esquelética.

Porém, antes dos médicos ortodontistas das vias aéreas e ortodontistas miofuncionais ficarem muito excitados, precisamos nos lembrar que isso foi um dispositivo de ERM com ancoragem esquelética. Nós ainda não sabemos nada sobre removíveis, semi-fixos ou outros dispositivos mágicos.

 

Traduzido por Klaus Barretto Lopes

Instrutor de Ortodontia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil

Professor Visitante da Universidade de Manchester, Inglaterra, Reino Unido

 

 

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