O AcceleDent teria alguma influência no tratamento com o Invisalign?

O AcceleDent é um dispositivo criado com a intenção de acelerar o tratamento ortodôntico. Será que ele teria algum efeito sobre o tratamento com o Invisalign? O presente estudo nos traz a resposta.

O AcceleDent é um dispositivo que vibra os dentes com a intenção de aumentar a velocidade do movimento dos dentes durante o tratamento ortodôntico.

Eu já postei sobre o AcceleDent várias vezes. Em tais posts, eu mencionei que foram feitos quatro estudos sobre a efetividade do AcceleDent. Três dos estudos não encontraram evidência de que o AcceleDent tenha algum efeito sobre a taxa de movimentação dentária. O outro estudo encontrou um efeito, mas a pesquisa possuía sérias falhas. O artigo foi publicado pela Seminars in Orthodontics.

Embora tais estudos tenham observado os efeitos do AcceleDent sobre o tratamento com aparelhos fixos, não foram feitos estudos que tenham investigado se a vibração influencia na velocidade da movimentação dentária com alinhadores. Portanto, eu fiquei muito interessado neste novo estudo no AJO-DDO. Vou analisá-lo com bastante atenção, pois acho que ele pode ser importante.

Effect of supplemental vibration on orthodontic treatment with aligners: A randomized trial Mina Katchooi et al

Am J Orthod Dentofacial Orthop 2018;153:336-46

https://doi.org/10.1016/j.ajodo.2017.10.017

Um grupo de Seattle fez o estudo.

O objetivo do estudo foi descobrir se o AcceleDent possibilitaria um tratamento ortodôntico mais rápido ao permitir que os paciente Invisalign pudessem trocar de alinhadores uma vez por semana. O grupo do estudo também perguntou se existiria alguma diferença no alinhamento, qualidade de vida ligada à saúde bucal e dor.

O que eles fizeram?

Eles fizeram um estudo randomizado paralelo, multicêntrico, com dois braços, triplo cego e taxa de alocação de 1:1. A PICO foi:

Participantes: Adultos (18 ou mais anos de idade) com má-oclusão envolvendo menos que 25 pares de alinhadores;

Intervenção: Dispositivo AcceleDent Aura ativo;

Comparador: Dispositivo AcceleDent Aura que teve as vibrações alteradas de modo que as vibrações não fossem transmitidas aos dentes.

Resultados: O percentual de participantes que completaram com sucesso a série inicial de alinhadores conforme o planejado fazendo a mudança dos alinhadores uma vez por semana. Eles também mediram a dor e a qualidade de vida com questionários. Finalmente, eles mediram a colaboração com os dispositivos AcceleDent.

Eu acho que o resultado foi incomum e vou discuti-lo mais adiante no post. Porém, vale a pena uma explicação cuidadosa sobre isso. Eles pediram aos participantes para mudar os alinhadores todas as semanas. Em cada consulta eles conferiam cuidadosamente se os últimos alinhadores encaixavam. Se não fosse um encaixe adequado, os pacientes eram removidos do estudo e continuavam o tratamento trocando os alinhadores a cada duas semanas. Assim, eles pressupuseram que se os alinhadores encaixassem, os dentes estariam se movendo mais rápido. Isso significa que se a vibração estivesse tendo um efeito, mais pacientes do grupo ativo do AcceleDent completariam o tratamento.

Dois operadores experientes fizeram todo o tratamento em seus consultórios particulares.

Eles conduziram um cálculo de tamanho amostral que foi relevante para os resultados. Os pacientes, operadores e assistentes foram cegados para a alocação. Eles fizeram uma boa randomização, ocultação e alocação. A análise estatística foi relevante.

O que eles encontraram?

Vinte e sete adultos começaram o estudo e somente um descontinuou o tratamento. Eles coletaram os dados de todos os pacientes.

Eles não encontraram nenhuma diferença entre os grupos no início do tratamento.

Ao final do estudo, eles encontraram que 10 (77%) do grupo do AccelDent ativo e 11 (85%) do grupo AcceleDent falso completaram o tratamento. Assim, não existiu diferença no percentual de pacientes em cada grupo que foram capazes de trocar seus alinhadores toda semana.

Eles também não encontraram diferença em alterações de alinhamento, dor e cooperação entre os dois grupos.

Eles afirmaram:

“A nossa hipótese original era a de que mais pacientes completariam seus alinhadores com o dispositivo de vibração ativa, uma vez que o dispositivo estimularia movimentos dentários mais rápidos e permitiriam um melhor acompanhamento. Para a nossa surpresa, não encontramos diferenças nas taxas de conclusão”.

Em outras palavras, eles não encontraram evidência de que o uso do AcceleDent aumentou a taxa de movimentação dentária.

O que eu pensei?

Primeiramente, os pesquisadores conduziram o estudo bem e os métodos foram todos bons. Importante ressaltar que os clínicos eram experientes e o estudo foi conduzido no consultório de um especialista. Assim, o estudo possui uma boa generalização.

Eu acho que precisamos olhar com atenção a medida de desfecho. A habilidade de trocar os alinhadores frequentemente é um desfecho secundário para o movimento dentário mais rápido. Outra opção seria desenhar um estudo onde nós mediríamos o tempo para completar o tratamento para cada grupo de pacientes. Porém, eu não estou convencido de que isso possa ser feito para o tratamento com alinhadores, porque nós confiamos nos alinhadores para mover os dentes. Esse não é o caso para aparelhos fixos, pois o operador ajustará a mecânica de tratamento e os fios na medida em que o tratamento progride.

Dessa forma, parece que as medidas de desfecho que eles utilizaram foram sensíveis e relevantes para o tratamento com os alinhadores. Os pesquisadores também ressaltaram que, durante o estudo, a Align sugeriu que os alinhadores poderiam ser trocados toda semana. Eles ressaltaram que, se a troca em 7 dias se mostrou ser efetiva, então que poderia ser necessário trocar os alinhadores a cada três dias para testar se a vibração tem um efeito. Isso poderia continuar para sempre!

Resumo

Após pensar sobre este estudo com cuidado, eu apenas posso concluir que existe ausência de evidência de que o AcceleDent aumente a velocidade da movimentação dentária. Esta evidência agora está se tornando esmagadora…

Traduzido por Klaus Barretto Lopes

Instrutor de Ortodontia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil