October 12, 2018

Os dispositivos de ancoragem temporária possuem uma boa relação custo-eficiência? Um novo estudo clínico

 

A introdução dos dispositivos de ancoragem temporária (DATs) tem revolucionado o tratamento ortodôntico. Mas será que eles possuem uma boa relação custo-eficiência? Este novo estudo clínico nos traz uma resposta.

A utilização dos dispositivos de ancoragem temporária é um grande método para reforçar a ancoragem. Revisões sistemáticas recentes têm mostrado que eles são efetivos e seguros. Os dados desta revisão foram baseados na efetividade dos DATs. Porém, para entender melhor esta inovação, precisamos considerar a relação custo-efetividade, que foi bem abordada neste artigo.

A cost-effectiveness analysis of anchorage reinforcement with miniscrews and molar blocks in adolescents: a randomized controlled trial

Niels Ganzer et al

European Journal of Orthodontics, 2018, 1–8 doi:10.1093/ejo/cjy041

Um grupo da Suécia fez este estudo e o EJO o publicou.

Na revisão de literatura, eles descreveram o uso dos mini-implantes como reforço de ancoragem. Eles também discutiram o conceito de ancoragem dos molares em bloco. Isto ocorre quando o operador prepara a ancoragem baseada no tamanho das raízes dos dentes. Para a ancoragem dos molares em bloco, eles amarram o segundo molar, o primeiro molar e o segundo pré-molar conjuntamente com ligaduras para fornecer uma unidade de ancoragem para retrair um primeiro pré-molar.

Eles se propuseram a responder a seguinte questão:

“O uso de mini-implantes como reforço da ancoragem reduz os custos do tratamento quando comparado com a ancoragem dos molares em bloco”?

O que eles fizeram?

Eles fizeram um estudo clínico controlado, randomizado, com a locação de 1:1. A PICO foi:

Participantes: pacientes ortodônticos entre 11 e 19 anos de idade, com necessidade de tratamento com aparelhos fixos e extração dos primeiros ou dos segundos pré-molares superiores. Eles também precisavam ser casos de moderada à máxima ancoragem com, pelo menos, 75% dos espaços de extração necessários para a retração em massa;

Intervenção: Dispositivo de ancoragem temporária (mini-implantes);

Controle: Ancoragem dos molares em bloco;

Desfecho: Perda de ancoragem e custo.

Eles coletaram os dados ao início do tratamento e ao final da necessidade de reforço de ancoragem.

Eles também mediram a movimentação dentária com um escâner 3D.

Finalmente, eles calcularam o custo direto do tratamento com os custos materiais dos aparelhos e o tempo de cirurgia. O custo indireto foi calculado pela perda de receita e pelos custos com transportes.

O que eles encontraram?

Eles não deram muita informação sobre a quantidade de perda de ancoragem neste artigo. Apesar disso, eles afirmaram que este artigo estava em preparação. Eles encontraram que a média da perda de ancoragem para os pacientes com mini-implantes foi de 1,5 mm e para os molares em bloco foi de 2,8 mm. Isto é parecido com outros estudos.

Quando eles observaram os custos, viram que o custo médio do tratamento com mini-implantes (€4.680) comparado com os molares em bloco (€3.609) gerou uma diferença de €829, que foi estatisticamente significante. É importante ressaltar que eles atribuíram isso ao aumento do número de atendimentos e da duração do tratamento para o grupo com mini-implantes, que foi 5,1 meses mais longo. Eles sugeriram que isso foi o resultado de um período maior de movimento mesial dos molares após os caninos terem sido retraídos.

Finalmente, eles sugeriram que em casos que necessitam de reforço de ancoragem moderado, o uso de mini-implantes não apresentou uma boa relação custo-efetividade. Porém, os mini-implantes devem ser usados nos casos que necessitam de ancoragem máxima.

O que eu pensei?

Eu achei que este foi um estudo clínico randomizado bem feito. Porém, teria ajudado bastante na interpretação destes dados se o artigo que ressaltou os efeitos do tratamento já tivesse sido publicado. Encontrei outro artigo nessa linha, no qual os pesquisadores relataram dor e desconforto. O Angle Orthodontist publicou este artigo. Ele revelou que a randomização e o ocultamento foram bons.

Os achados do presente artigo foram muito relevantes clinicamente. As diferenças no custo foram clinicamente significativas. Achei interessante que eles acharam que isto ocorreu devido às necessidades de fechamento de espaço no grupo com mini-implantes. Isso pode representar um uso “incorreto” da mecânica com a nova técnica e eu me pergunto: – Será que isto aconteceria agora que já estamos mais experientes no uso dos DATs?

Como de costume ao analisar artigos clínicos, depende de você a interpretação dos achados. Este artigo novo e interessante nos traz informação clinicamente relevante para darmos ao nosso paciente. Acho que devemos ler todos os artigos oriundos deste estudo que vierem a ser publicados. Este é um bom artigo para discutir na seção dos comentários deste blog. Mas, por favor, podemos evitar discussões sobre extração/não extração, perfil e outras coisas mágicas.

 

Traduzido por Klaus Barretto Lopes

Instrutor de Ortodontia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil

 

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