Outro experimento sugere que AcceleDent não deve ser efetivo…
Outro experimento sugere que AcceleDent não deve ser efetivo…
Os leitores regulares desse blog sabem que eu já postei sobre o AcceleDent antes. Nesses posts, eu discuti que os anúncios feitos pelos fabricantes e pelos líderes formadores de opinião não são suportados pelas pesquisas.
Peter Miles, um ortodontista australiano, conduziu essa pesquisa em seu próprio consultório. Eu conheci Peter quando ele era residente na Universidade de Pittsburgh e ele era um estudante que sempre fazia perguntas difíceis. Ele conduziu alguns ensaios randomizados em seu próprio consultório. O AJO-DDO publicou seu artigo mais recente sobre o AcceleDent.
Peter Miles and Elizabeth Fisher
Am J Orthod Dentofacial Orthop 2016;150:928-36)
DOI: http://dx.doi.org/10.1016/j.ajodo.2016.07.016
Esse artigo foi bem escrito. Eles escreveram uma revisão muito boa sobre o conhecimento atual acerca do AcceleDent e ressaltaram que estudos retrospectivos suportaram o uso do aparelho. Paradoxalmente, ensaios randomizados mostraram que o dispositivo não era efetivo.
Eles iniciaram um trabalho para descobrir se o uso do AcceleDent aumentaria a taxa de movimentação inicial quando medida por um índice de irregularidade ou pelo perímetro anterior da arcada.
O que eles fizeram?
Eles fizeram um ensaio randomizado em um único centro, com a alocação da intervenção versus o controle de 1 para 1.
A PICO foi:
Participantes: Crianças com até 16 anos de idade com aparelho ortodôntico fixo para tratar a maloclusão de Classe II, com necessidade de extração de dois primeiros pré-molares.
Intervenção: AcceleDent Aura utilizado 20 minutos por dia.
Controle: Tratamento convencional, sem o AcceleDent.
Desfecho: Mudança no perímetro da arcada e no índice de irregularidade num período de 10 semanas medida nos modelos de gesso. Os desfechos secundários foram o desconforto e a analgesia.
Eles conduziram um cálculo de tamanho da amostra baseados em ensaios prévios conduzidos com o AcceleDent. A randomização e a ocultação da alocação foram boas. Eles “cegaram” o operador para o grupo designado. Similarmente, a pessoa que acessou os modelos não sabia a alocação do tratamento nem o momento no tempo em que os modelos foram obtidos.
A análise estatística foi compatível aos dados.
Eles analizaram os dados de todos os pacientes e repetiram a análise para os pacientes que foram bons cooperadores, de acordo com os temporizadores dos dispositivos AcceleDent.
O que eles encontraram?
Eles mostraram que não existiu diferença entre os grupos no início do tratamento.
Após um período de 10 semanas, não existiu diferença no perímetro das arcadas e no índice de irregularidade entre os grupos. Em outras palavras, nesse estudo o AcceleDent não funcionou. Eu inclui alguns dados relevantes nessa tabela:
Perímetro anterior do arco (mm) | Índice de irregularidade de Little (mm) | |||
Início | Após 10 semanas | Início | Após 10 semanas | |
AcceleDent | 37,1 | 37,7 | 3,9 | 1,7 |
Controle | 36,5 | 37,8 | 4,4 | 1,5 |
Diferenças | 0,6 (-1,6, +1,8) | -0,1 (-1,5, +1,1) | -0.5 (-2,2, +2,8) | 0,2 (-0,6, +0,6) |
Eles também encontraram que não existiu diferença entre os grupos quando incluiram somente os bons cooperadores.
Finalmente, eles não encontraram nenhuma diferença no desconforto entre os grupos. Entretanto, o grupo que utilizou o AcceleDent tomou menos analgésicos nas primeiras 24 horas. Dezenove pacientes tomaram analgésicos no grupo controle comparado a 12 no grupo do AcceleDent. Como resultado, o uso do AcceleDent resultou numa redução de 7 pacientes tomando analgésicos nas primeiras 24 horas. Eu calculei os números necessários para tratar desses dados. Isso mostrou que você precisaria tratar 3 pacientes com AcceleDent para evitar que um paciente precisasse tomar medicamentos nas primeiras 24 horas. O intervalo de confiança foi amplo, indo de 2 até 9. Esse não é um grande efeito e a minha opinião acadêmica é que isso não justifica o uso do Acceledent.
Eles fizeram uma discussão bem legal dos seus resultados e traçaram analogias aos braquetes auto-ligados. Eles ressaltaram que os primeiros estudos que foram conduzidos foram retrospectivos e que existiu uma grande difusão dessa nova tecnologia. Ainda que, quando ensaios foram feitos, tais benefícios não foram suportados. Isso não é incomum com a introdução de novas tecnologias. Infelizmente, esse parece ser o padrão com o AcceleDent.
O que eu penso?
Eu acho que esse foi um pequeno ensaio bem conduzido no “mundo real”. Eu acho que é interessante que os resultados desse ensaio estejam de acordo com outros ensaios bem conduzidos. Também é relevante considerar que esses resultados não suportam os resultados de um experimento conduzido por um consultor da AcceleDent e publicado numa revista de baixa qualidade.
Eu também achei que isso seria um ótimo exemplo de um estudo interessante e relevante sendo feito em uma clínica ortodôntica e não numa Faculdade de Odontologia. Peter prova que boa pesquisa pode ser feita dessa forma.
Eu estou preocupado que praticantes estejam promovendo essa tecnologia na ausência de boa evidência. Me preocupa porque o dispositivo AcceleDent custa o dinheiro do paciente. Agora existe uma evidência crescente que deve levantar uma dúvida sobre a efetividade do AcceleDent. Nesse aspecto, eu me pergunto, os ortodontistas podem continuar promovendo esse produto? Finalmente, seria ótimo se alguns dos líderes formadores de opinião do AcceleDent pudessem comentar sobre esse artigo.
Hello Dr Obrien,
Is this study really an evidence that Acceldent doesn’t work ? What about mesuring the amount of deplacement of each tooth ? The perimeter IS NOT the only parameter that can prove that acceledent dosesn’t work. What was the perimeter variation in theses cases at the end of the treatments ? Have they varied between the begining and the end ? In what amount ?
A lot of questions which should have been answered in this study to assert that acceledent doesn’t work…