Qual é a acurácia dos cronômetros intra-orais?
Não seria ótimo se pudéssemos, com acurácia, gravar o tempo em que os nossos pacientes usam seus aparelhos removíveis/funcionais? Recentemente, novos cronômetros intra-orais têm sido desenvolvidos e esse novo estudo nos traz informações sobre a sua acurácia.
Quando eu fiz o meu primeiro treinamento como ortodontista, um dos meus colegas estava trabalhando com cronômetros intra-orais. Infelizmente, os cronômetros eram muito volumosos e sofriam corrosão quando eram colocados nos aparelhos. Assim, ele parou o trabalho.
Agora, muitos anos depois, um novo cronômetro chamado Theramon está sendo introduzido no mercado. Esse cronômetro é sensível ao calor e o tempo de uso é medido pelo tempo em que o sensor é exposto às temperaturas entre 33,5 e 39,0 OC.
Os cronômetros têm sido testados utilizando-se compartimentos com água em diferentes temperaturas. Surpreendentemente, pouca pesquisa tem sido feita sobre a sua acurácia na boca. Um grupo de Chesterfield, no Norte da Inglaterra, fez este estudo para medir a acurácia do cronômetro Theramon:
Catherine Brierley et al
Journal of Orthodontics, 2017 https://doi.org/10.1080/14653125.2017.1365220
Eles fizeram estas perguntas:
“O cronômetro Theramon consegue gravar o uso em tempo integral (24 horas por dia) quando fixo intra-oralmente?”
“A localização do micro sensor na boca influencia no tempo gravado?
O que eles fizeram?
Eles fizeram um estudo cohort prospectivo numa amostra de conveniência com 5 voluntários. Foram colocados dois micro sensores intra-orais fixos nas bandas que foram cimentados com os molares superiores e inferiores. Um dos sensores foi assentado no palato e o inferior no sulco vestibular inferior.
Eles gravaram o tempo de uso por um período de 7 dias. Finalmente, eles compararam o tempo real do tempo gravado.
O que eles encontraram?
Eles encontraram que os cronômetros gravaram uma média diária de 23 horas (95% IC 22,6 – 23,4). Isso significa que foi deixado de gravar, em média, 4%. Quando eles observaram a acurácia dos cronômetros superiores (palato) e inferiores (sulco vestibular) num período de 7 dias, eles encontraram que foi deixado de se gravado 8,7 horas (95% IC 5,0-12,3) para os superiores e 5,3 horas (95% IC 1,7-8,8) para os inferiores.
Finalmente, eles encontraram uma variação na temperatura gravada pelos cronômetros de 25,9 a 43,5 OC. Isso é importante, pois o software Theramon presume que o aparelho estaria na boca se a temperatura gravada estivesse entre 33,5 e 39,0 OC. Consequentemente, o sensor Theramon gravou menos horas do tempo de uso diário do aparelho do que o tempo real de uso.
O que eu pensei?
Eu achei que o estudo foi clinicamente relevante, mas muito pequeno. Ele é um bom exemplo de como nem sempre uma validação ex vivo reproduz a realidade clínica. Apesar disso, precisamos ser cautelosos ao interpretar os resultados. Isso porque, simplesmente, foi um estudo com uma amostra muito pequena. Os autores mencionaram tal fato em sua discussão e declararam que se tratou de um estudo piloto.
Entretanto, eu acho que os achados deles são interessantes e devemos avaliar se tais resultados podem influenciar a nossa decisão sobre quando usar os cronômetros. Com respeito a isso, eu acho que devemos observar o tamanho do efeito. Parece que ele foi de 4% ou 1,2 horas por dia e você precisa avaliar se isso é clinicamente significante.
Os autores também ressaltaram que se os fabricantes alterarem os limites da variação na temperatura, a acurácia poderia aumentar para 98%. Esse é claramente um passo sensato a ser dado.
O outro achado importante foi que os fabricantes recomendaram colocar os sensores no palato. No entanto, o estudo mostrou que os sensores colocados no palato foram os que tiveram menos acurácia, com uma falha de gravação de 1,2 horas por dia, o que representa 34 horas num período de uma semana. Os autores sugerem que isso é clinicamente significante e estou inclinado a concordar com eles.
Finalmente, os cronômetros têm grande potencial em nos ajudar a motivar os nossos pacientes ou como ferramentas de pesquisa. Eu espero que os fabricantes vejam esse artigo e considerem se precisam fazer algumas mudanças em sua interessante tecnologia.
Traduzido por Klaus Barretto Lopes
Instrutor de Ortodontia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil
Professor Visitante da Universidade de Manchester, Inglaterra, Reino Unido