August 06, 2018

Vamos dar uma olhada nos artigos sobre Ortotropia na prevenção de caninos impactados

Os defensores da Ortotropia fazem muitas afirmações sobre tal tratamento. Este artigo analisa se a Ortotropia é efetiva na interceptação de caninos impactados.

Eu já discuti sobre a ortotropia antes. Na verdade, este é um tratamento desenvolvido por John Mew que é um ortodontista que trabalha no Reino Unido. A base do tratamento é que a etiologia da má-oclusão é, em sua maior parte, devido ao ambiente. Assim, a Ortotropia leva em consideração o ambiente dos dentes e arcadas como parte do tratamento. Isto é feito com aparelhos removíveis. Um curso sobre o tratamento custa £7.500 (±R$36.000,00). Para informações mais detalhadas, dê uma olhada no website deles.

Recentemente, John Mew perdeu sua licença para clinicar no Reino Unido por conta de preocupações sobre o exercício da profissão. Seu filho, Mike, se uniu a ele. Mike é ortodontista com Mestrado. Eles têm sido muito ativos e desenvolveram um canal no YouTube com vídeos, como esse envolvendo uma discussão sobre uma potencial apnéia do sonodo Mark Zuckerberg. Eles ensinam Ortotropia na Escola de Ortotropia de Londres e dão cursos internacionalmente.

Eu os desafiei a provar suas teorias e não vi boa evidência sobre a Ortotropia. Porém, John Mew me chamou a atenção para este artigo que eles escreveram. Eu achei que eu devia dar uma olhada nele.

CANINE IMPACTION: HOW EFFECTIVE IS EARLY PREVENTION?

AN AUDIT OF TREATED CASES.

John Mew and Mike Mew

STOMA.EDU J (2015) 2 (2) 114-119.

Na introdução, eles chamaram a atenção de que a prevenção antecipada de caninos impactados é raramente praticada. Paradoxalmente, eles mencionam que a extração de caninos decíduos é conduzida, mas que, para uma grande proporção de crianças, ela não é bem-sucedida. Eles sugerem que o tratamento ortotrópico, que envolve mover a maxila à frente, pode ser um tratamento para caninos impactados. Eles procuraram responder à pergunta:

“Qual é o efeito da Ortotropia na taxa de caninos impactados de uma dada população?”

O que eles fizeram?

Eles perceberam que a presença de caninos impactados era rara na clínica deles. Assim, eles conduziram uma auditoria. Porém, eles afirmaram:

“Caninos impactados tendem a ser uma parte inesquecível do tratamento ortodôntico por conta dos problemas que eles geram e, consequentemente, são improváveis de ser esquecidos.

Aproximadamente 1.500 pacientes têm sido tratados pela Ortotropia durante o período de 5 anos avaliado e ainda não teve uma única incidência de uma criança que tenha iniciado o tratamento antes dos 10 anos de idade e tenha tido caninos impactados.”

Eu transcrevi isso para dizer que eles basearam os dados no fato deles não conseguirem se lembrar de nenhum paciente com caninos impactados.

O que eles encontraram?

Eles não conseguiram se lembrar de nenhum paciente mais novo do que 10 anos de idade que tivesse caninos impactados. Então, eles compararam esses dados com os dados de uma população geral, que sugeriam que a variação de caninos impactados era de 1,5 a 4,5%. Eles acharam que esta diferença foi “altamente significativa com relação a qualquer análise estatística”.

Foram incluídos alguns relatos de caso na discussão deles, com radiografias pouco claras, que se tornaram ainda menos claras porque eles desenharam sobre elas. A conclusão final deles foi que “a expansão e a vestibularização dos incisivos antes dos 10 anos de idade, acompanhada de treinamento postural, pode reduzir e prevenir os caninos impactados”.

O que eu pensei?

Primeiramente, nós precisamos considerar que as pesquisas recentes têm mostrado que a abertura de espaços para os caninos impactados resulta em sua provável erupção. Eu já postei sobre isso antes. Assim, esse tratamento pode ter um efeito porque ele vestibulariza os incisivos superiores. Mas eles podem afirmar que a Ortotropia é efetiva em reduzir os caninos impactados a partir deste artigo? Eu acho que eles não podem.

Precisamos considerar que se esta é a melhor evidência que eles têm para promover o tratamento deles, então a evidência está faltando. Este estudo possui como principais problemas:

Eles não revisaram as documentações para obter o número de impacções. Acho que eles apenas utilizaram a memória deles. Claramente, esta não é a forma de se medir um resultado em qualquer tipo de pesquisa.

A população referida se restringiu a de uma clínica que pratica uma ortodontia “alternativa”. Assim, a população pode ser diferente de uma população normal.

Na minha opinião acadêmica, este artigo não está no nível nem de uma auditoria. Eu estou surpreso de que eles sintam que isso é evidência. Talvez, existam outras informações e eles possam me encaminhar referências adicionais para revisar.

 

Traduzido por Klaus Barretto Lopes

Instrutor de Ortodontia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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