July 11, 2017

Cuidado com o feixe cônico: Será que ele não faz diferença?

Cuidado com o feixe cônico: Será que ele não faz diferença?

Eu acho que as imagens da tomografia computadorizada de feixe cônico (TCFC) são fantásticas e elas parecem tornar o meu diagnóstico muito mais fácil e acurado. Mas será que isso é verdade mesmo? Esse artigo interessante do EJO fornece uma perspectiva interessante…

The impact of Cone Beam CT on financial costs and orthodontists’ treatment decisions in the management of maxillary canines with eruption disturbance

Helena Christell et al

EJO: Advanced access DOI: https://doi.org/10.1093/ejo/cjx039

Um grupo de Malmo, na Suécia e de Manchester, Norte da Inglaterra, fez este estudo.

Não existe dúvida de que a introdução da TCFC nos deu um método de visualização muito detalhado dos problemas ortodônticos. Ainda que as imagens sejam muito claras, nós não sabemos ao certo se a radiação adicional e os custos são completamente justificáveis. Isso se torna ainda mais verdadeiro se a adição da tecnologia não levar à mudanças nos resultados ou nas decisões. Essa é a pergunta que o investigador fez nesse estudo interessante.

Eles avaliaram em pacientes com desvios de erupção dos caninos superiores:

1          Se existia alguma diferença nas decisões clínicas baseadas nas imagens convencionais comparada com as imagens da TCFC.

2          O custo de se produzir diferentes planos de tratamento.

O que eles fizeram?

Eles avaliaram as decisões de tratamento por meio de uma pesquisa na internet utilizando os seguintes componentes:

As documentações do paciente

  1. Eles selecionaram as documentações de 12 pacientes diferentes que tiveram desvios de erupção unilateral dos caninos superiores. É importante ressaltar que eles não tinham nenhuma outra razão para o tratamento ortodôntico.
  2. Os casos tinham duas radiografias intra-orais periapicais tomadas em diferentes ângulos, uma radiografia panorâmica e relevantes imagens das TCFC.

Os participantes

Eles enviaram e-mails para todos os membros da Sociedade Sueca de Ortodontia e perguntaram se eles queriam fazer parte do estudo. De um total de 314 membros, 112 concordaram em participar do estudo.

As avaliações

Eles enviaram um link para acessar a pesquisa para os ortodontistas e alocaram cada ortodontista para quatro dos doze casos. As documentações foram avaliadas em dois estágios. No estágio um, eles avaliavam dois casos com radiografias intra-orais e panorâmicas (M1) e dois casos com TCFC e radiografia panorâmica (M2). Então, o mesmo foi repetido para o estágio dois onde foi trocada a ordem de apresentação das imagens. Isso significa que o mesmo caso foi repetido com o outro método com um período mínimo de duas semanas entre as avaliações.

Foi pedido aos ortodontistas para tomarem decisões sobre o tratamento que tiveram acesso usando as seguintes opções:

  1. Não tratar,
  2. Tratamento ortodôntico sem extrações,
  3. Tratamento ortodôntico com extrações dos primeiros pré-molares,
  4. Tratamento ortodôntico com extrações dos incisivos laterais superiores e
  5. Tratamento ortodôntico com extrações dos caninos superiores com desvio de erupção.

Eles também avaliaram a própria confiança nas tomadas de decisão utilizando uma escala de cinco pontos.

Custos

Eles calcularam os custos relativos às técnicas de imagem.

Estatística

Eles calcularam a concordância entre e com os ortodontistas e qualquer diferença nas decisões de tratamento quando utilizaram as diferentes técnicas de imagem.

O que eles acharam?

Participaram da pesquisa 112 ortodontistas.

Quando olharam para a comparação entre os métodos de imagem encontraram que a variação de concordância nas decisões de tratamento variou entre 100% em um caso e 12,8% em outro caso.

A decisão mais comum foi o tratamento ortodôntico sem extrações, com 66% das avaliações feitas em M1 e 64% feitas em M2. No geral a TCFC não fez diferença.

Apenas em um caso o plano de tratamento mudou (79% do tempo) com a TCFC e foi um caso no qual o paciente tinha reabsorção do incisivo lateral.

É importante ressaltar que, no geral, 107 das 445 (24%) decisões de tratamento foram diferentes quando baseadas nas documentações M2 ao invés da M1. Também foi mostrado que não houve diferença na confiança entre as decisões tomadas com as diferentes técnicas de imagem.

O custo médio da M1 foi o de R$370,00 e o da M2 foi o de R$502,00. Finalmente, eles calcularam que o custo adicional por decisão de tratamento de R$536,25 foi devido ao uso da TCFC.

A conclusão geral do estudo foi que:

“Os resultados não suportam o uso rotineiro da TCFC em pacientes com caninos superiores com desvios de erupção”.

O que eu pensei?

Esse foi um estudo complexo e eu acho que o interpretei corretamente.

Eu vou começar com os pontos positivos do estudo. Ele foi bem conduzido, bem desenhado e lógico. Foi selecionada uma ampla variação de casos representando os problemas clínicos mais comuns. Os tamanhos das amostras foram lógicos. É importante ressaltar que a amostra dos avaliadores foi composta por ortodontistas o que confere validade externa ao estudo.

Se for muito crítico, eu acho que esse estudo, como muitos outros, ainda é um estudo que não inclui a oportunidade de examinar o paciente. Além disso, o intervalo de duas semanas entre as avaliações pode significar que os ortodontistas podem se lembrar das decisões que eles tomaram. Entretanto, nós precisamos nos lembrar que não estamos simplesmente olhando para a repetibilidade, nós estamos avaliando a influência da informação adicional. Desse modo, mesmo que os ortodontistas se lembrem da primeira decisão, ela pode mudar com a informação adicional.

Também é relevante lembrar que os resultados foram muito parecidos com os de outros estudos. Todos mostram que a adição da TCFC não muda as decisões de tratamento de forma fundamental.

Eu achei que a conclusão deles é muito relevante para as decisões radiológicas. Também acho que eles foram muito cuidadosos ao afirmar que a “TCFC de forma rotineira” não era indicada. Eu concordo com isso e nós devemos somente aumentar a dose de radiação para os nossos pacientes quando estivermos convencidos de que a informação adicional é essencial. Eu estou certo de que os bons ortodontistas podem diagnosticar a maioria dos problemas clínicos com as radiografias 2D de baixa radiação. Eu imagino que a discussão sobre esse post vai ser interessante…

 

Traduzido por Klaus Barretto Lopes

Professor Visitante da Universidade de Manchester, Inglaterra, Reino Unido

Instrutor de Ortodontia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil

 

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