April 23, 2019

Por que os pacientes não usam os seus Twin Blocks?

Realmente, não sabemos os motivos pelos quais alguns pacientes cooperam com o uso de seus Twin Blocks e outros não. Este novo artigo nos traz informações úteis.

Há poucas semanas, postei sobre umnovo estudo que usou cronômetros para medira cooperação com o uso do aparelho Twin Block. Os autores também fizeram pesquisas adicionais para descobrir o que influenciaria na cooperação dos pacientes com o tratamento. Achei isso realmente interessante, uma vez que nos trás várias informações clinicamente relevantes. Um grupo da Barts and the London Dental School, que fica no lindo Sul da Inglaterra, fez o estudo. O AJODO o publicou.

Understanding factors influencing compliance with removable functional appliances: A qualitative study

Anas El-Huni et al.

AJO-DDO  2019;155:173-81 https://doi.org/10.1016/j.ajodo.2018.06.011

Eles escreveram uma introdução excelente sobre os fatores que influenciam na colaboração com os aparelhos ortodônticos removíveis. As taxas de falta de colaboração com o Twin Block são entre 10 e 49%. Mas todos pensamos que os nossos pacientes são melhores do que a média! Também está claro que os pacientes tendem a sobrevalorizar as suas taxas de colaboração individual. Sobre isso, o estudo deles com cronômetros nos trouxe ótimas informações. Então, decidiram conduzir mais esse estudo na amostra deles.

O que perguntaram?

Eles perguntaram:

“Quais são os fatores associados aos diferentes níveis de colaboração com o aparelho Twin Block? Podemos obter informação que possa ser usada para aumentar a colaboração?

O que fizeram?

Eles fizeram um projeto de pesquisa utilizando métodos qualitativos. Essa é uma técnica relativamente nova de pesquisa na Ortodontia, mas que está se tornando mais popular. Na verdade, a pesquisa qualitativa envolve a entrevista de pessoas, seguida da análise dos resultados de uma forma padronizada. Sua maior vantagem é que esse método abrange opiniões e sentimentos sobre o tratamento ou seus resultados. Assim, os achados são muito relevantes para os nossos pacientes. Eles utilizaram uma amostra de 22 pacientes que estavam participando de uma pesquisa clínica comparando o uso parcial e integral do Twin Block. Eles monitoraram o tempo que os aparelhos foram usados com o dispositivo Theramon. A amostra incluiu uma mistura de bons e maus colaboradores. No primeiro estágio do estudo, eles desenvolveram um guia que usaram para estruturar as entrevistas. Então, eles conduziram entrevistas semiestruturadas na amostra de pacientes. Cada encontro durou em torno de 45 minutos. Finalmente, eles transcreveram as entrevistas e o grupo as analisou utilizando algo chamado de metodologia estruturada. Estive envolvido com isso em algumas das nossas pesquisas e esse é um processo longo de discussão e teste que ao final identifica temas.

O que encontraram?

Para a maioria dos ortodontistas, a pesquisa qualitativa é desafiadora para ler e seguir. Acho que isso se dá por estarmos mais acostumados com números etc. Os resultados são apresentados descritivamente e, também, temos dificuldade com isso. Tentei tornar isso o mais simples possível, devido às restrições de espaço. Eles identificaram cinco temas principais, que foram:

  • Automotivação
  • Influência social
  • Diminuição da qualidade de vida e adaptabilidade
  • Progresso de tratamento percebido
  • Questões pragmáticas e de recordação

Eles, também, apresentaram facilitadores (influências positivas) e barreiras (influências negativas), sendo que algumas podiam ser ambos. Vou analisar alguns deles detalhadamente.

Automotivação

A automotivação influenciou claramente os pacientes, pois queriam melhorar a aparência. Eles, também, não queriam ser diferentes das outras pessoas da mesma idade. Porém, a falta de automotivação foi uma barreira para a cooperação.

Influências sociais.

Tais influências incluíram os pais, os pares e os ortodontistas. Uma chave crucial para a cooperação é a relação entre o paciente e o ortodontista. O ortodontista precisou incentivar e informar. A cooperação também dependeu do reforço positivo do operador. Fatores similares foram relatados para a influência dos pais. Minha interpretação disso foi que incentivar foi mais importante do que ameaçar quando a cooperação não era boa. Finalmente, a influência dos pares foi muito importante. A cooperação deles foi influenciada pelas influências positivas e negativas da, de alguma forma, dura vida da escola e do playground.

Qualidade de vida e adaptabilidade

Isso foi crucial para a cooperação e esteve relacionado à forma como os pacientes se adaptaram ao incômodo do uso do Twin Block, incluindo a dor e a implicância. Tais citações foram muito relevantes.

“Parei de usar por causa da dor e da forma que falava com ele. Ninguém conseguia me entender. Passei a ficar quieto e após algum tempo, simplesmente, o tirei”.

“Num primeiro momento, implicaram comigo pela minha forma de falar, mas pararam logo depois”.

Progressão percebida do tratamento

Eles encontraram que uma atitude positiva com relação ao progresso do tratamento foi fundamental. O ortodontista ressaltava as mudanças e o paciente percebia a melhora da aparência.

Questões pragmáticas e de recordação

Estas foram relativas ao tempo de uso prescrito, interferência nas atividades diárias e lembretes. Foram todas interações complexas e refletiram os problemas relacionados aos pacientes que possuem uma vida ativa e que têm que se adaptar a usar o aparelho.

Melhorando a cooperação

Finalmente, os autores fizeram algumas sugestões para melhorar a colaboração, que foram:

  • Comunicação efetiva entre o ortodontista, seu time e o paciente.
  • Modificar o aparelho, tornando-os menores (mas isso pode influenciar a sua efetividade).
  • Utilizar lembretes, como, por exemplo, aplicativos.

Eles também produziram um gráfico legal, que ressalta as influências.

O que pensei?

Achei que foi uma ótima pesquisa, que nos trouxe informações clínicas úteis. Enquanto alguns dos achados reforçaram as minhas impressões clínicas sobre a influência da cooperação, também me lembraram da importância de se explicar o tratamento para os pacientes e para os pais. Também fiquei estimulado a sugerir o uso de lembretes e cronômetros para melhorar a cooperação. Acho que todos que tratam pacientes com aparelhos funcionais devem ler este artigo, pois ele é bem interessante e possui informações relevantes. Alguns podem sentir que os achados são óbvios, porém, ter um reforço positivo do que fazemos é sempre útil. Todos gostamos de saber se estamos fazendo a coisa certa.

Traduzido por Klaus Barretto Lopes

Professor Adjunto de Ortodontia e Saúde Bucal Coletiva da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil

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